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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Newton, Quântica e casamentos

Pensar casamentos e divórcios obriga-nos a pensar nos paradigmas que nos envolvem, condicionam e dos quais ficamos e somos aditos. (ver o último § "Amor segundo os paradigmas")

Numa simples analogia:
O nosso destino é nadar dentro dentro do nosso "aquário de ideias" (os paradigmas), obedecer-lhe e viver como ele consente. 
A alternativa é saltar cá para fora e ir para outro aquário (por ex., mudar de religião, de partido, ou de casamento,..):

Duas histórias, a do Manuel e a do Joaquim

O Manuel e o Joaquim têm 30 anos, nascem e vivem em culturas diferentes, mergulhados em diferentes "bolhas de ideias".

O Manuel foi ensinado que quando tem dores é porque uns bichinhos (micróbios) entraram dentro dele e lhe estão a fazer mal. 
Há uns "sábios" que vestem bata branca e andam com uns tubos ao pescoço para escutar cá por dentro e sabem matá-los com umas "coisas" que nos dão para engolir. Essas coisas chamam-se remédios.

O Manuel nunca viu nenhum micróbio e essas coisas parecem-lhe farinha, mas ele tem FÉ, anda feliz, contente, ensina isso ao filho porque seu pai também lhe ensinou.


O Joaquim foi ensinado que quando tem dores é porque há umas alminhas que andam à sua volta a "chatear" e a dar-lhe dores.
Há uns "sábios" que vestem uns colares, andam com caixas para fazer ruídos, sabem assustar essas alminhas e fazê-las fugir. Mas ele tem que ajudar e por isso deve dançar à luz da Lua para terem medo dele.

O Joaquim nunca viu nenhuma alminha e esses ruídos parecem-lhe barulhos esquisitos, mas ele tem FÉ, anda feliz, contente, ensina isso ao filho porque seu pai também lhe ensinou.


Um dia, o Manuel e o Joaquim têm dores, um toma remédios e o outro dança debaixo da Lua. 
Qual a diferença entre eles? 

São exactamente iguais, só tiveram pais diferentes que ensinaram coisas diferentes.
Ambos são felizes com os seus pensamentos e não querem outros, ficaram aditos (ver § sobre "mecanismo das emoções"), isto é, fanáticos a querer convencer todos das suas ideias e a fazer guerras contra os descrentes e sacrílegos. Assim nascem tribos, religiões, políticas e…casamentos.
E cada um de nós?? Dançamos à Lua ou tomamos remédios? Só depende do que nos ensinaram, dos enlatados com que nos alimentaram. 
Na verdade, somos "peixes" dentro dos nossos "aquários de ideias" e a nossa liberdade é andar lá dentro…mas o nosso destino é  SAIR DELES. Chama-se EVOLUÇÃO.

Existem enlatados-base que suportam outros enlatados operacionais, tecnicamente chamam-se PARADIGMAS. São uma espécie de SISTEMA OPERATIVO (tipo Windows, Mac, Linux, etc) com os quais se constroem os modelos de fazer e pensar (o Software que usamos). 
Estes paradigmas não dizem como se decide ou como se faz, apenas definem as fronteiras, as áreas permitidas/proibidas e o método de pensar.

Tirem-nos os paradigmas e ficamos perdidos SEM SISTEMA OPERATIVO, parecemos um computador sem software,  com o "écran azul da avaria" à espera do técnico. Instalem-no de novo e a angústia desaparece (vidé a calma certeza do fanático e/ou do convertido).

As gerações que encontram um paradigma bem instalado e morrem com ele ainda em vigor têm uma vida feliz, sem angústias existenciais. A necessidade de FÉ começa quando temos que escolher um dos vários que aparecem…e até fazemos guerras por causa deles. Mudar o paradigma ou defendê-lo é o papel dos missionários (os que assumiram uma missão)…religiosos, políticos, matrimoniais, psiquiátricos...

Sejamos claros, ter FÉ e defender um deles é apenas porque ele foi (é) a "bolha de ideias" onde vivemos, que assumimos pelo mecanismo das emoções e ficámos aditos. 

O mecanismo das emoções é simples (?!?!?), os pensamentos criam emoções e estas criam neuropeptídeos específicos para cada uma. Estes neuropeptídeos percorrem a corrente sanguínea e ligam-se a moléculas, adaptando estas às suas características. Depois estas só querem esses neuropeptídeos, ou seja, "exigem" essas emoções, ou seja, "exigem" esses pensamentos. Nasceu o adito fanático com o "vício" (felicidade??) dessa emoção. (ver recentes pesquisas sobre "Moléculas da emoção") 
PS - O divórcio é um instrumento social que legaliza o fim de um aditismo emocional (a paixão amorosa).
No plano geral, na cultura europeia distinguem-se três épocas de paradigmas, ou "úteros mentais", em que as pessoas baseiam a vida e justificam o que fazem:

Paradigma Mágico-religioso
Paradigma Newtoniano 
Paradigma Quântico 


A - Paradigma Mágico-religioso

O Paradigma Mágico-religiososo sustentou e condicionou o pensar Europeu durante milhares de anos, "controlando" as sociedades na sua vida quotidiana, não só na política, economia, ciência, religião, como também nas técnicas particulares de agricultura, beleza, saúde, etc. 
Os princípios desta "bolha de ideias-base", nas quais as pessoas se apoiavam para viver e das quais não se atreviam a sair, são:



1- O Poder Divino é a causa e a explicação de tudo o que acontece;
2- Na Terra tudo é feito de 4 elementos: AR, FOGO, ÁGUA,TERRA;
3 - O "fogo" e o "ar" muito leves sobem e no Céu juntam-se criando o 5º elemento, o ÉTER;
4 - Tudo o que está no céu (estrelas, lua, planetas,...) é feito de "éter";
5 - A Terra é o centro do universo, tudo anda à sua volta;
6 - É o Poder de Deus que move tudo;
7 - A Terra é plana;
8 - Tudo o que contradiga ou negue estes princípios é sacrilégio.

O conhecimento e a sua procura só têm o objectivo, e só são permitidos, para glorificar Deus e confirmar os princípios mágico-religiosos em geral e da religião em particular.

A "educação" ensinada era, por exemplo:

- Tudo o que se move no "éter" é sustentado e empurrado por anjos;
- Os mortos têm que ser enterrados nas igrejas (terreno sagrado] por ser a porta da subida ao céu (daqui o difícil combate ás pestes);
- A causa de tudo o que acontece é Deus, tentar alterar os acontecimentos sem ser através de Deus é desobedecer-LHE, é sacrilégio;
- Quem consegue curar (ex., bruxas) têm ensinamentos diabólicos para contrariar a vontade de Deus e impedir o SEU plano. Quem cura e/ou se cura são excomungados, pois só Deus (ou os seus representantes) o podem fazer.
- Se se ultrapassa o limite do horizonte cai-se da Terra, "lá para baixo", e desaparece-se.

Como resumo, 
o eixo central do raciocínio da época é o conceito de causa-efeito não ter qualquer importância no raciocínio, visto que Deus é a causa de todos os efeitos. 
Os humanos são impotentes perante o que acontece, só lhes resta assistir e sofrer. Os representantes divinos na Terra (sacerdotes e reis) são a voz dos Deuses, desobedecer é sacrilégio, analisar causa-efeito é sacrilégio, julgar esses representantes é sacrilégio, sair do "aquário" é sacrilégio.




B - Paradigma Newtoniano 

No século XVII-XVIII, com Newton dá-se a 1ª Revolução Cientifica, que na verdade se traduziu num REVOLUÇÃO HUMANA, pois mudou-se o "aquário mental" em que se vivia, alterando o seu eixo central ao introduzir e priorizar o conceito de causa-efeito.
Os seus princípios foram:


1 - Princípio Mecanicista - Tudo é feito de pequenas partes com funções previsíveis e identificáveis que criam a função do Todo (modelo relógio). Um resultado indesejado é uma parte que tem um funcionar indesejado.
2 - Princípio do Determinismo - Para cada acção existe uma reacção oposta e igual. Qualquer resultado é determinado pela acção que o causou.
3 - Princípio da Separação - Observador e Observado são entidades distintas, independentes e sem mútuas influências.
4 - Princípio do Resultado Lógico - Os efeitos acontecem num processo lógico e linear de causas anteriores. 

Em resumo, o conceito central é o de uma máquina constituída por partes identificáveis e previsíveis, cumprindo um determinismo lógico de causa-efeito e não sujeita a influências de Observadores.

Tem um corolário operacional. Nesta perspectiva quando o todo não funciona, pesquisam-se as partes constituintes e a "estragada" é substituída e tudo se resolve. Este processo torna-se o raciocínio base da vida quotidiana, do trabalho, á família e à vida pessoal.

Assim, neste Paradigma a "Acção" (substituindo a crença) é o seu elemento fundamental. 
Ela é o elemento causador da activação da lógica. A lógica com a sua causa-efeito é o centro do raciocínio. Se o resultado não é o desejado, procura-se a parte que o contradiz e age-se sobre ela. AGIR É O SEGREDO DO SUCESSO.

Como Observador e Observado são "coisas" distintas, a lógica é sempre observável e pensável por um observador isento que não interfere: o cientista. O seu papel é perseguir a lógica para trás até encontrar o ponto crítico (diagnóstico) e agir para alterar a parte defeituosa (activismo). Diagnóstico e activismo são a "religião" quotidiana.

Nasceu uma nova raça de humanos, os humanos científicos, que invadem todos os ramos do saber (engenharia, economia, medicina, negócios, política,…) com esta nova "religião", o Paradigma Newtoniano.

Ele fica actuante desde Adam Smith, Thomas Jefferson, Frederick Taylor, Karl Marx, Lenine, Charles Darwin, Sigmund Freud até muitíssimos outros na actualidade, inclusive nós próprios no nosso quotidiano. Repete-se a situação anterior, apenas o Paradigma Magico-religioso foi substituído.

Ex., Freud
Sigmund Freud é um caso interessante do uso do Paradigma de Newton. A sua Psicanálise é a aplicação deste Paradigma ao raciocínio curativo dos doentes mentais.


O Principio do Determinismo e o Principio da Lógica causa-efeito dizem que, pesquisando para trás na lógica das acções anteriores que causaram o efeito, é possível identificar a acção disfuncional causadora, corrigi-la e anular esse efeito. 

Aplicando estes Princípios a um doente mental, significa examinar o seu passado (cujas acções originaram o que é hoje) descobrir a causa perturbadora (o trauma), corrigi-la e curar o doente. A psicanálise está criada. 
Fora dos Princípios do "aquário mental Newtoniano" a Psicanálise não seria o que é.
PS - A Psicanálise no Paradigma Magico-religioso é fácil, basta falar com os Deuses e convencê-los!! Mas, como será pensada a Psicanálise com o Paradigma Quântico ???

Como resumo, 
o eixo central do raciocínio desta época é a importância do conceito de lógica linear de causa-efeito.
Esta lógica tira a sua importância de ser a base dos mecanismos deterministas feitos de partes com funções especificas (modelo relógio). 
Observadores isentos e isolados têm o papel de diagnóstico da perda de lógica e do  activismo necessário para a sua solução. Deus desapareceu da metodologia.



C - Paradigma Quântico

Recentemente, surgiu a 2ª Revolução Cientifica, a Física Quântica que se traduzirá numa nova REVOLUÇÃO HUMANA, a pensar de modo diferente, tão distinta do pensar Newtoniano como este foi do pensar Mágico-religioso.
Se a Física Quântica não o assusta é porque não a percebeu!
Niels Bohr, Prémio Nobel Física, 1922
A Física Quântica refutou definitivamente o Princípio da Causalidade!
Werner Heisenberg, Prémio Nobel Física, 1932
Seguramente, posso dizer que ninguém entende a Física Quântica!
Richard Feynman, Prémio Nobel Física, 1965
Uma história:

Dizia o cientista ao colega:
- Estes ratos treinei-os muito bem, quando querem comida tocam a sineta. Nunca falha!
Dizia o rato ao colega: 
- Este cientista treinei-o muito bem, quando quero comida toco a sineta e ele dá-me. Nunca falha!
Obs. - Paradigma da Quântica "Observador e Observado não são separáveis, pois suas observações e expectativas fazem parte do objecto observado".
A lógica da causa-consequência varia consoante o observador e este faz parte do sistema observado, na verdade, é uma espécie de juiz em causa própria. 
Os princípios do paradigma da Quântica respondem a muitos dos problemas do paradigma de Newton:


1 - Principio do holismo -  A matéria é um Todo orgânico, unificado, isto é, o Todo é mais que a soma das partes, não é explicável pelas componentes juntas. 
Opõe-se ao Princípio Mecanicista.
2 - Principio da unidade -  Não há relação causa-efeito. Uma acção pode não ser causada por uma força nela incidente.
Opõe-se ao Princípio do Determinismo.
3 - Principio do Inseparável -  Observador e Observado não são separáveis, suas observações e expectativas fazem parte do Observado. 
Opõe-se ao Princípio da Separação.
4 - Principio da não-linearidade -  sistemas não são lineares, não há proporcionalidade efeito-causa, no universo não há sequência, correlação ou ordenação lógica
Opõe-se ao Princípio do Resultado lógico.

Estes princípios respondem às descobertas no campo da Microfísica, ao estudo das partículas subatómicas que constituem toda a matéria. Na verdade estas partículas não são partículas, não são tangíveis, não são físicas, são apenas possibilidades até que se manifestem, o que acontece quando são observadas. Então tornam-se partículas ou ondas, depende do observador. Numa palavra são apenas um puro potencial.
(ver as experiências, não conjuntas, dos Físicos Andrew Cleland e Aaron O'Connell)
O interessante deste paradigma é que como essas partículas constituem a matéria de que todos somos feitos, o paradigma também nos diz respeito. Nós somos um puro potencial a ser actualizado em cada momento, e não um efeito de causas passadas.
PS - Pois é, Sr. Freud Newtoniano talvez os humanos não sejam de modo algum um "relógio estragado por traumas" a ser reparado.
O mais estranho, pensando dentro do paradigma de Newton, é que no plano quântico é a intenção do observador que origina a possibilidade colapsada (saída do possível para uma forma real), ou seja, a intenção cria a realidade, o que é impensável no paradigma de Newton.

Huau!!… agora sei o que os nossos tetra-avós sentiram quando lhes disseram que a Terra não era plana, mas uma bola pendurada no espaço e com os chineses de cabeça para baixo do outro lado. Deve ser o que sinto agora quando a Quântica me entra pela porta dentro.
Possivelmente, os meus tetra-netos quando estudarem a quântica na Escola Primária devem pensar que: - "Coitados, nesse tempo ainda eram muito analfabetos, acreditavam em cada coisa!!"

Na verdade, se no sec XVII considerar a Terra redonda era pensar contra-natura, então hoje será lúcido pensar que a Quântica também é contra-natura? 
Ora se a História nos ensinou qualquer coisa, foi que pelo menos temos o DEVER de pensar nisso, quer acreditemos, quer não!


Amor segundo os paradigmas


AMOR Mágico-Religiososo:
- "Porque Deus assim o planeou..!";

AMOR Newtoniano:
- "Porque assim o construíram com as acções feitas...!";

AMOR Quântico:
- Porque essa é a intenção que actualizam em cada momento…!

Obs.- Se se reparar as duas primeiras são apenas formas diferentes de criar intenção, uma pela FÉ em Deus, outra pela Fé em acções.


No paradigma do Newton estar apaixonado é o resultado de um conjunto de acções anteriores que causaram este efeito. Estar des-apaixonado é o efeito causado por outras acções que provocaram efeito contrário. A perspectiva do "determinismo relojoeiro" domina o pensar e o sentir amoroso.

Portanto, apaixonar ou desapaixonar é um processo gerível a partir de acções de transformação provocadas nos processos causadores. Desta perspectiva nascem duas profissões: as casamenteiras para iniciar o processo e os terapeutas familiares para recuperar o que foi perdido. 
Em casos limites, a psicanálise também pode ser uma ajuda, mas é mais arriscado. Nunca se sabe se o "trauma" desvelado vai acelerar o casar ou o descasar.

Nesta perspectiva, o divórcio é uma consequência de peças avariadas, pelo que um casamento falhado terá que ir à oficina de reparações, isto é, ao terapeuta familiar. Se não se reparar, passa-se para o Paradigma Mágico-religioso e terá que cumprir o plano de Deus, isto é, aguentar por razões diversas (dever, filhos, dinheiro, família, amigos, etc).
PS - Se pensarmos que casar, tradicionalmente, é uma legalização e permissão social para relações sexuais, aquelas razões são um pouco da área da prostituição, ou seja, passa a ser uma relação sexual fora da esfera amorosa ou ainda pior na esfera "anti-amorosa".
Muitos dos traumas e conflitos de divorciados e famílias resultam desta perspectiva. Quando o divórcio não é de mútua vontade (não confundir com mútuo acordo) há um certo anátema que fica por lá aos saltos a cair em cima dos "defeituosos".

Porém no Paradigma Quântico, apaixonar-se não é uma espécie de mecanismo de causas-efeitos de peças ajustadas em que tudo funciona bem. 
Para a Quântica tudo é um campo de possibilidades que são "colapsadas"' momento-a-momento, isto é, passam da possibilidade ao real em função da intenção. 

A intenção é a energia subjectiva que se expressa em pensamentos, estes em emoções, estas em neuropeptídeos e estes em energia objectiva nas células  a que se ligam, transformam, e adaptam a si. Deste modo as células ficam "aditas" a esses neuropéptidos, ou seja, a essas emoções. Apaixonado é uma forma de "aditismo".
(Ver estudos sobre os neuropeptídeos e as emoções)

Estar apaixonado é um efeito directo da intenção-em-cada-momento (Paradigma Quântico) e não um efeito de processos passados (Paradigma Newtoniano). 
Como a intenção é um produto directo do Observador (Paradigma Quântico), pois ele é inseparável da situação, a paixão é um produto do apaixonado e não do Objecto da paixão. Esta conclusão não é válida no Paradigma Newtoniano com a sua separação Observador-Observado (q.e.d.).

Em conclusão:

O paradigma Newtoniano diz que a realidade é um conjunto de processos lógicos de causas-efeitos, obedecendo ao determinismo das suas LEIS. 
Pela acção, jogando com as Leis, podemos alterar os resultados. É uma espécie de "livre-arbítrio dentro do determinismo", ou "ser livre dentro da prisão".
Assim, se vivem os êxitos e fracassos dos casamento e divórcios, dos Romeu's e Julieta's, dos engates e desengates, das alegrias e tristezas.

O Paradigma Quântico diz que a realidade é um colapsar em cada momento das possibilidades existentes em potencial.
Pela intenção, expectamos uma possibilidade originando a sua activação. É uma espécie de "livre-arbítrio dentro das possibilidades", ou "ser livre dentro da liberdade".


PARA TERMINAR...

…se em cada salto civilizacional os nossos paradigmas mudam e com eles a nossa visão de nós próprios e do mundo, nós não somos uma Espécie Evolutiva, somos uma Espécie Mutante.


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Filhos, Planos, Vida e Hollywood

A estratégia militar tem um dogma interessante:

Em sistemas simples, um bom plano derrota qualquer inimigo.
Em sistemas complexos, um bom inimigo derrota qualquer plano.


Esta regra faz a diferença entre a 1ª e 2ª Guerra Mundial e as Guerras de Guerrilha, ou entre a Polícia prender um Drogado ou prender os Drogadores. 

A diferença é simples, nos sistemas simples as probabilidades calculam-se com alto nível de certeza, nos sistemas complexos as incertezas não precisam de cálculo, elas passeiam-se à vontade, oferecendo surpresas constantes.

O bom militar em sistema simples é o que segue o plano, o bom militar em sistemas complexos é o que é criativo dentro do plano, pois no primeiro caso a realidade "confirma" a previsão e no segundo a realidade "des-confirma" as expectativas.

A educação dos filhos era (é ???) feita com modelos para viverem em sistemas simples. Isso acabou,... os sistemas de vida são cada vez mais complexos.
Educar filhos para sistemas simples é cómodo e fácil, no dizer de um pedagogo "é só preparar os parafusos para as porcas existentes… e a máquina funciona". 
O problema é se a máquina passou a mudar em cada minuto…" e "quando o parafuso lá chega, não tem porca que lhe sirva".

Pais, Professores, Escolas, Governo, ... fazerem o melhor que podem não é argumento que se diga, é des-vergonha que se mostra. O melhor que podem não vale nada, é apenas o pior que sabem.



Os produtores de Hollywood sabem isto muito bem. Um filme custa milhões de dólares investidos "à cabeça", mas… o plano que originou o cálculo tem que se adaptar contínua e sucessivamente a dezenas de variáveis que vão aparecendo. A sobrevivência do Plano é ele não sobreviver… transformar-se. Parafraseando Darwin, "a sobrevivência da espécie é ela não sobreviver…passar a ser outra".

As variáveis Hollywoodescas são muitas, depois de "adjudicado o crédito":

- o argumentista muda a história;
- o actor (star system) altera a personagem (incorpora nele parte da sua personalidade);
- o realizador "redesenha" o fluir da história;
- produtores negoceiam logísticas, recursos e dinheiro: "o que era para haver…não há, e o que existe não era o previsto";
- a meteorologia altera calendários;
- Vida pessoal do "star system" altera a produção e a história planeada;
- O marketing impõe alterações: - "O filme é para ser vendido".
- etc, etc

Os financiamentos são obtidos baseados em planos, exactamente porque se sabe que esses planos vão ser alterados …é um sistema complexo. 
Quando o arquitecto entrega o plano da casa ao cliente e à Camara Municipal o plano é para cumprir até ao "parafuso planeado"... é um sistema simples.

Em Hollywood o dinheiro é garantido sabendo-se já que vai ser usado através de um  confronto sucessivo de uma série de "Egos gigantes", cada um lutando pela sua ideia…e o espantoso é que funciona.

PS1 - Faz lembrar as negociações dos Parceiros Sociais a "construírem" o País, em Hollywood faliam rapidamente.

PS2 - Outra solução é o plano ser sempre o mesmo e os orçamentos é que aumentam sucessivamente. As produções (pontes, estradas, edifícios,..) acabam por custar 3, 4, 5,…vezes mais que o previsto aprovado.

São duas culturas "alienígenas" uma em relação à outra. Desde as regras de funcionamento, ao estilo de liderança, à distribuição de poder, relações pessoais, e… fundamentalmente, os perfis dos envolvidos.

A pergunta que se apresenta é simples:

Com que perfis educamos os nosso filhos???

Vão ser bons profissionais a pôr "pensos rápidos" ou a fazer parte de um grupo que "opera ao cérebro"?

E os chefes, querem organizações que só põem "pensos rápidos" ou organizações que "operam ao cérebro"?

Não vamos  escamotear o problema, não é um problema cultural, é um problema de escolha e vontade politica…há um instrumento que se chama VOTO

Resolvem-se crises pondo pensos rápidos?????




terça-feira, 13 de agosto de 2013

Emoções, a verdade da mentira

Todo o mundo é um palco.
Shakespeare

"Actor é o que cria sinceridade de emoções para os sentimentos parecerem verdadeiros na situação proposta".
Stanislavski

Teatro e cinema não são o mesmo. Passamos a vida a fazer teatro para os outros, mas não fazemos cinema. 
Parafraseando Shakespeare não se pode dizer - "Todo o mundo é um écran de cinema".

Porquê ???


O actor de teatro em cada representação está numa "lâmina de navalha" entre o êxito e o falhanço. Se falha não tem segunda oportunidade. O actor de cinema pode repetir até o "take" (registo) ficar bom, e esse take fica imutável até ao fim dos tempos. 

O actor de cinema trabalha com rede, o actor de teatro está sozinho consigo próprio e cada representação só existe UMA VEZ... para cada vez. É como a vida, nela também não há "takes" para escolher o melhor.

Todos nós sabemos isto...mas esquecemos. O "desculpa" (tira-me a culpa) não desfaz o acto (físico ou verbal), "sinto muito" (I am sorry), desculpado ou não, não faz retornar ao que era (undo)…a vida não é cinema. 

Uma boa actriz é a que representa bem a dor de uma mãe e mente tão bem (porque a dor pertence à historia, não à vida dela) que nos cria emoções verdadeiras a partir dessa "mentira bem mentida".
Se o actor mente mal, em vez de chorar com a dor da mãe, damos uma boa gargalhada.
Assim, também vivemos a vida com emoções verdadeiras a partir das representações dos outros, às vezes representando mais para si próprios do que para nós. 

O prazer do teatro não é ver a representação do actor nas expressões representadas, é descobrir o actor nas fissuras da representação, é ver expressões da sua vida pessoal que se escapam pelos interstícios da representação.

Ver teatro é estar na primeira fila vendo a preocupação da actriz pela filha doente que surge entre a alegria representada do encontro amoroso que faz parte da história. 
A essência de ver teatro não é assistir ao personagem através do actor é assistir ao actor através do personagem. É assistir à "lâmina de navalha" onde ele vive o risco de cada representação e assistir à beleza desse fingimento. 
Ver teatro de longe na última fila é como ver cinema e pelo buraco da fechadura, não é um nem é o outro.

José Régio tem um texto elucidativo sobre a expressão artística. Ele diferencia:

Expressão vital - ex., na rua, uma mãe imóvel olha o filho atropelado, ficando em êxtase negativo, num excesso de conteúdo com forma reduzida;
Expressão retórica - são as carpideiras  que arrancam cabelos e roupa, gritam, choram e arrepelam-se num excesso de forma com conteúdo reduzido.
Expressão artística - é quando se sente a dor e se vê a sentir a dor, num esquizoide de verdade e mentira ao mesmo tempo, numa forma e conteúdo equilibrados.


E cada um de nós ??

Sabendo que o êxtase (vital) e as carpideiras (retórico) estabelecem relações difíceis e problemáticas, e só se aguentam em doses pequenas e espaçadas, cada um de nós oscila entre os três estilos em percentagens diferentes.

Qual é a nossa percentagem ??? Ela expressa-se em cada acto, em cada conversa, desde pedir um café ao balcão até a uma zanga com o filho.

O êxito social vem muito do terceiro estilo, da expressão artística, da capacidade de criar emoções verdadeiras com "mentiras bem mentidas".

O segredo da felicidade mútua parece afinal ser "saber mentir para criar emoções verdadeiras".

Não nos sintamos defraudados, se pagamos bilhete para ir ao teatro, porque nos zangarmos por ter teatro gratuito??? Só é preciso que seja bom e seja a peça que queremos ver.


Diferença pássaro & tartaruga & política

Qual a Diferença ???

Pois é…diferenças não existem, só existem "em…" e /ou "para…".

Quando um deles aparece as perguntas surgem, assim se acrescentarmos "em cima do poste", o conceito "pássaro" deixa os neurónios sossegados, mas o conceito "tartaruga" agita-os e três perguntas invadem-nos: 

- Porque está lá ?

- Como lá chegou ?

- Como sai de lá ?


Estas três perguntas fizeram a diferença entre a pré-História e a História. Sem elas ainda andávamos pelas árvores a disputar os ramos aos macacos...e eles ganhavam. 

Elas são a base da civilização e devem ser a alavanca de qualquer educação e ensino. São a nossa diferença como espécie. 

Chama-se CURIOSIDADE.

Qualquer criança depois de nascer, nasce segunda vez quando a curiosidade aparece. Da primeira faz-se uma grande festa, da segunda ninguém liga e até se aborrecem. 
Todos os seres vivos, das árvores aos humanos, passando pelos micróbios, têm o primeiro nascer, só alguns têm o segundo. 

Todavia, quando se repara, a curiosidade encanta-nos quer seja numa criança quer num animal, cão, gato, pássaro. Os genes sabem a sua importância, a cultura esqueceu. 

Uma sociedade sem curiosidade é uma sociedade de mortos-vivos. Uma política que a impede é uma política de envelhecimento. Não é a economia que move as sociedades é a curiosidade. 

A curiosidade é a "droga" da vida, fomenta o namoro e dá energia à felicidade.

Conhecem algum partido que a ponha num slogan ?....

O slogan de um partido para umas eleições podia ser:

CRIANÇAS FELIZES COM PAIS EMPREGADOS

Quando acontecesse,....a curiosidade andaria por lá à solta:  - "Como?? Quando?? Onde?? Porque não?? Porque sim??"

Eu votava neles !!!...e obrigava-os a cumprir.

O progresso é isto, as autoestradas são apenas um meio.