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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Competição como progresso, a parvoíce instalada...



Estes foram os nossos antepassados que povoaram a Terra há cerca de três biliões de anos:



….os organismos unicelulares (bactérias, algas, amibas protozoários, etc) que invadiram o mundo.

Como eram inteligentes, há 750 milhões de anos, criaram comunidades pois perceberam que a sua sobrevivência melhorava se cooperassem e colaborassem entre si. 



Assim surgiram os organismos multicelulares que, "inventando" a cooperação, se estruturaram e integraram em organismos, partilhando resultados e apoios. 
Constituíram colónias de mútua ajuda com populações variadas, desde apenas algumas dezenas de "indivíduos" até muitos milhares.



Muitos milhões de anos depois, a cooperação foi adoptada pelos humanos, cujo exemplo mais simbólico é a fábrica "inventada" por Henry Ford.

Mas, qual é a diferença entre a cooperação da Fábrica de Henry Ford e a cooperação da colónia multicelular ?


É simples: a cooperação fabril é uma cooperação estúpida e a cooperação biológica é uma cooperação inteligente.
PORQUÊ...???

Cooperação de Henry Ford 
é uma cooperação primárialinear, um-a-um e centrada na energia. Dever-se-ia chamar ENCAIXE e não cooperação. O seu modelo é:

ou seja, dois burros puxam melhor uma carroça do que um,
desde que …obedeçam…portanto, liderados com rédeas curtas.
O esquema lógico é:

em que cada um complementa/continua o esforço do anterior num processo uni-orientado.

Aqui a competição pode existir sem efeitos colaterais significativos (que qualquer simples e primário líder forte pode resolver) pois o resultado da competição só afecta os competidores. O sistema global parece beneficiar do modelo pois, se um é destruído, o outro o substituirá com economia para o conjunto. Em esquema:


Quando se trata de encaixe de energia com reduzida utilização de informação, este tipo de "cooperação" parece funcionar relativamente bem. 

Porém,  mesmo na cooperação primária do modelo Henry Ford, quando é preciso cooperar com um maior fluir de informação, o modelo tem que criar variantes mais evoluídas…a isso chama-se "equipinhas", que são apenas um mal necessário:

Foto da época

Porém, a
Cooperação biológica 
é do tipo "informação/comunicação", portanto, o seu modelo não pode ser primário, do tipo fábrica Ford, mas tem que ser evoluído e inteligente. Na verdade, ele é complexoholístico, um-a-muitos e centrado na comunicação, instrumento fundamental da interdependência entre todos. O seu modelo é:

em que cada polo é origem e destino de todos os outros e todos agem simultaneamente em série e em paralelo (modelo de construção da Wikipedia). Isto significa que o que afecta um (ex. competir) afecta todos os outros, pois o equilíbrio mútuo é desequilibrado.

PS - Coração não compete com estômago porque todo o organismo seria afectado (SUICÍDIO).

O Factor Crítico de Sucesso do organismo evoluído não é a força competitiva dos seus elementos, mas a sua força cooperativa. Quando existe chama-se SAÚDE, quando não existe chama-se DOENÇA. 

A regeneração celular é um instrumento para a saúde, isto é, para o re-equilíbrio do organismo, permite recuperar uma ferida. Quando a regeneração celular intensifica o seu funcionamento e sai do equilíbrio,  chama-se cancro.

PS - A cooperação partidária é o re-equilibrio saudável da sociedade, a competição partidária é o seu desequilíbrio doentio, é um cancro social.


Os organismos superiores são uma "colónia" de triliões de células em cooperação inteligente, todas lutando por equilíbrio entre si.

Quando uma célula cria um anticorpo para anular um vírus, rapidamente comunica e partilha essa "descoberta" com todas as outras e o corpo fica vacinado. Não inicia competições "estúpidas" para conquistas de poder. 



Em termos simples, tomar um remédio significa apenas ir afectar um equilíbrio muito sensível de triliões de células cooperando entre si. Significa ir afectar uma complexa rede de inter-ações muito activas e dinâmicas. Isto é muito claro se lermos as bulas dos remédios. Lá encontramos o efeito positivo que nos interessa e muitos outros possíveis efeitos negativos que não nos interessam, além dos que não são citados e/ou se desconhecem.
PS - A conclusão que se tira é que é preciso ter "uma saúde de ferro" para tomar qualquer remédio contra a doença.
Tomar um antibiótico significa matar bactérias, matar as más que nos adoecem e matar as boas que nos dão saúde (as que por ex. cooperam na digestão). A esperança que nos motiva a tomar remédios é que ganhar a batalha contra a doença não seja também perder a vida nessa guerra.


A vida

A vida é uma espécie de arquitecto com um PLANO da CASA debaixo do braço. Tem plano mas não tem casa.
Para ter casa ele tem que activar o plano, cooperar com o contexto e integrar os dois.

O ADN é o plano de um ser vivo, não serve para nada se não for activado num contexto.
O "gene musical" do Mozart não se expressaria em nenhuma sinfonia se ele fosse um selvagem da Amazónia ou se na Europa fosse um tratador de porcos até morrer. Teria plano (ADN) mas não teria sinfonia.

Do mesmo modo, uma doença pode ter o gene "X" como correlação, mas ele não é A CAUSA da doença, pois ele está mergulhado numa teia de cooperações internas e externas condicionantes.

Várias perguntas se podem pôr:

- "Porque o gene se activou agora? E não antes, nem depois?"; 
- "O que foi que no contexto o activou ou desactivou?"; 
- "Qual o diferente equilíbrio interno que o fez activar?" etc.

Tem que se sair do mito do "herói solitário" das histórias infantis, heróis de sobrevivências, para a biologia da vida pois nesta, com a sua teia de inter-dependências, é a comunidade o factor de sobrevivência e não eventuais unidades vencedoras de competições.
PS- Um agente da doença noutro contexto é usado como agente de saúde, e chama-se então VACINA.  Neste caso, a "comunidade das células" sabe usá-lo de modo diferente, usa o negativo como positivo.
O jogo da vida é o jogo da cooperação, da teia de inter-dependências, não é o da competição, não é o da dinâmica de indivíduos entre si, mas sim da dinâmica de indivíduos versus contexto.


Darwin, com a sua "sobrevivência do mais apto", foi deturpado, utilizado e, à revelia do seu pensamento, deu origem ao mito social da competição "natural", tão do agrado dos teóricos da competição… e a "parvoíce instalou-se".

Na verdade, em seus escritos, ele é claro quando afirma a importância das redes de colaboração e troca dentro das comunidades das espécies, como um aspecto central do progresso da evolução.
Na verdade, o "conceito de mais apto" tem duas variáveis importantes:

A - Mais apto no presente ou no futuro?
B - No contexto actual, no próximo, ou abstraindo o contexto?

Darwin sempre viu a evolução num espaço de tempo longo, jogando com a dinâmica passado-futuro, e na adaptação ao seguinte contexto especifico da sua existência.

Para os teóricos da competição, o tempo considerado é o PRESENTE e não consideram o CONTEXTO, é como se fosse inexistente, … e a parvoíce tem o caminho aberto para se instalar.

Três situações:

A- 
Numa competição dinossauro-humano num tempo "curto e num contexto específico", parece não haver dúvidas que o dinossauro é o mais apto para sobreviver.
Todavia, se considerarmos a comunidade dinossauros e a comunidade humanos, num tempo longo (passado-futuro) e num contexto alterado, a conclusão é outra, o humano evoluiu e sobrevive e o outro involuiu e desaparece.



Árbitro, o garante da cooperação mínima necessária
B- 

A competição é um cocktail de "faz cooperação" e "faz anti-cooperação".

Não há competição sem um mínimo de cooperação aceite. A sua base de existência é "aceitar cooperar com as regras".
Quando não se coopera e se infringem propositadamente chama-se BATOTA, se não é propositado chama-se FALTA. 

O árbitro está lá para garantir o mínimo de cooperação. Esta cooperação mínima é o CONTEXTO da competição, sem ele ela não é possível.

Ghandi, quando da competição política Reino Unido-India, não aceitou as existentes regras de jogo (cooperação mínima), criou outro contexto (não alterável  pelo Governo Inglês) e nele o jogo foi outro.


PS - Como uma breve nota, salienta-se que, para existir, 
a competição precisa da cooperação, mas a cooperação 
não só não precisa da competição, como esta lhe é adversa.


Ponto nevrálgico da competição:
 cooperação impossível,  proibida
C - 
Depois da base cooperativa estar estabelecida, a essência da competição é tirar vantagens da anti-cooperação, isto é, lucrar com as falhas do outro.

Nesta perspectiva, cooperar com o competidor é FRAUDE, é anti-desportivismo, podendo ser crime.
Na foto ao lado, nem o marcador pode cooperar, apoiar o guarda-redes indicando para onde atira a bola, nem o defensor pode cooperar, apoiar o marcador dizendo para onde irá proteger. 

Ambos tem que fazer o outro falhar, ou seja, fazer anti-cooperação.




Se se pensar a competição política, nela isto é muito evidente.
A deontologia de um militante partidário é cooperar no desenvolvimento do País. Na luta partidária a sua deontologia é ser impensável cooperar, colaborar e impedir insucessos do outro partido, mesmo que isso seja impedir o desenvolvimento do País.

A base da competição política é mostrar e explorar as incompetências do outro, não é ajudá-lo a não fazer incompetências. Os partidos existem para cooperar, a competição partidária existe para anti-cooperar. 
A teoria é: "Quanto melhor anti-cooperarmos com eles e lhes ganharmos a competição partidária, melhor seremos depois a cooperar com eles no desenvolvimento do País!"



Para terminar, 

Só se o Darwin fosse louco é que poderia defender que a essência do progresso evolutivo de uma espécie poderia ser "a competição natural entre os membros da espécie". Dizer que uma comunidade progride por rentabilizar os falhanços dos seus membros através de competições, favorecendo os que tiram lucros desses falhanços, se não for debilidade mental é parvoíce instalada.

Na recente Ciência do Genoma (Ciência do Genes) aparecem (2003/2005) algumas conclusões que apoiam Darwin na sua perpectiva de que a colaboração e a troca dentro das comunidades das espécies é um aspecto central do progresso da evolução. Estas conclusões referem-se à "partilha de informação genética inter-espécies".

Segundo Duta e Pan, 2002; Gogarten, 2003; Boucher, 2003; Pennisi, 2004; Nitz, 2005, parece que não há muros entre as espécies, pois todas pertencem a uma comunidade de entidades vivas que cooperam e partilham entre si os progressos evolutivos da vida. 
Segundo Daniel Drell (manager of the Department of Energy's Microbial Genome Program) citado em Science (Pennisi, 2001) "já não podemos mais, confortavelmente, dizer o que é uma espécie".

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