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quinta-feira, 27 de março de 2014

O Porquê e o Para-quê na Vida


(Ref. para ver diferenças Porquê/Para quê)
 (prévio)  " Há dois estilos de relação, qual é o seu? " de 24 Mar 2014 )  

 (cont.)  Novo partido e o Porquê, Para-quê e Como, de 02 Abr 2014




Pois é, para cumprir estas regras
responda só quando não tiver emoções,
isto é, 
quando estiver morto!



Segundo o neurocientista Richard Restak, M.D., "The naked brain", as emoções são a base da tomada de decisões. O sistema límbico é o responsável pelos sentimentos e pelas emoções mas quem comanda o racional, o pensamento analítico e as palavras é o neocortex .

Temos então dois sistemas em jogo na tomada de decisões: o emocional e o racional.

Quando se pergunta:

- Porque és do Benfica? …ou do Sporting? …ou do Porto?
- Porque gostas da tua apaixonada(o)?
- Porque gostas de peixe?

São perguntas da área das emoções, controlada pelo córtex límbico e as respostas vão ser lógicas e analíticas, expressas em palavras, o que é controlado pelo neocortex. O caos está instalado.

A solução vulgarmente adoptada é o neocortex começar a controlar o processo e desfiar uma série de razões na área do Para-quê e do Como

Assim, nascem os estudos de mercado, onde se pergunta às pessoas o que gostam ou gostariam de ter, onde querem votar, etc, e elas vão desfiando uma série de "lógicas", normalmente consequências descritas com frases bonitas e lógicas que são considerados os PORQUÊ's das decisões e tituladas como as suas causas…mas que nem sequer tocam na questão apenas expressam Para-quê's ou Como's.

- Pergunta: Porque gostas da tua apaixonada?

- Resposta: Porque é bonita, inteligente e trabalhadora!

ou, com maior "parvoíce",

- Resposta: Porque é mulher mais bonita do mundo! 
ou
Resposta: Porque quero que seja a mãe dos meus filhos! 
(com a concepção in vitro ainda corre o risco de se apaixonar pela máquina).

Não digo que tudo isto não seja verdade, mas há milhares de mulheres com estas características e não está apaixonado por elas. A pergunta dirige-se ao sistema límbico mas a resposta vem do neocortex.

PS - Penso que esta pergunta feita e respondida entre apaixonados permitiria que se divertissem, não se zangando com as respostas mas sim tendo respeito pelas mútuas incapacidades da integração sistema límbico e neocortexpois normalmente as respostas são de uma "ingenuidade" infantil ao estilo La Palisse.

Como exemplo:
Foi feito um estudo de mercado sobre detergentes para a roupa e a conclusão foi que a causa da preferência era "o branco ficar mais branco e as cores ficarem luminosas". A partir daqui foi uma "guerra" de aditivos e cada um inventava o seu, procurando responder à grande percentagem dessa resposta obtida. Mas,

- "Em casa, ou quando vão para um Hotel, inspeccionam se os lençóis estão brancos e com cores luminosas?

Quase ninguém faz isso apesar de quase todos o dizerem, mas quando se deitam ou vestem roupa lavada quase todos cheiram, portanto o cheiro a lavado é um factor importante na compra dos detergentes.
Simplesmente esta resposta foi bloqueada pelo neocortex (não apareceu de forma significativa)…pois não era "intelectual" e possivelmente nem é usada como critério de compra.

O importante na linha da motivação é que ela é um impulso à acção e a sua energia vem da emoção criada no sistema límbico, directamente conectada com a resposta ao PORQUÊ. Ter respostas lógicas a partir do Para-quê e/ou do Como não são solução.



Porque és do Benfica?…ou do Sporting?…ou do Porto?

Esta pergunta interessante pode abrir uma porta de pesquisa.

Segundo Richard Restak com a resposta ao Para-quê e/ou ao Como as pessoas compreendem factores que participam na situação mas a energia de alterar status quo não surge, não há inspiração, não há emoção.

Segundo ele, a parte do córtex (sistema límbico) que controla a decisão não controla a racionalização nem a linguagem, o que é feito pelo neocortex, por isso é tão difícil explicar porque se gosta daquela pessoa e se dão tantas razões-justificações racionais e "nonsense" que, se analisadas, às vezes, até são ridículas.

Quando se pressiona alguém para decisões racionais a 100%, invariavelmente entram em bloqueios de super-raciocínios e paralisam. Por outro lado, salienta Restak, as decisões racionais são demoradas e muitas vezes de baixa qualidade por fixações em informações parciais e raciocínios "perseguidores", isto é, os que não abandonam a preponderância, ou na gíria "não saem dessa", também conhecidos por "senhores do seu nariz", teimosos ou afirmativos, dependendo do ponto de vista.

Se for comprar uma TV entre várias Marcas-Modelos, depois de todos os para que serve e como faz do vendedor em relação a cada um, qualquer que seja a decisão tomada sentir-se-á sempre com dúvidas angustiantes acerca dela. 
Se em vez dessa perspectiva se preocupar a responder porque é que eu a quero, em vez de ouvir o vendedor far-lhe-á perguntas para encontrar as respostas pretendidas. Sem clarificação do PORQUÊ qualquer decisão é um trabalho árduo. Só podem dizer o que querem se souberam porque querem e não apenas para o que querem e/ou como querem.

Procurar o PORQUÊ é a base do processo.

Por exemplo:


Esquecendo o Para-quê e o Como, qual a resposta à pergunta:

Porque é que vizinhos, amigos, conhecidos, reformados e activos,... passam horas a conversar nos cafés?





Talvez a resposta esteja aqui:


pois a causa, a resposta ao Porquê, possivelmente é comum a todos os animais, incluindo os humanos.

E agora, o que tem de comum com esta?


É que o factor activo é o mesmo em ambas, ou seja, é a emoção de "Pertença" que domina.
Pertença de abraçar ou de ser abraçado, Pertença de apoiar/proteger ou de ser apoiado/protegido.

A vida energiza-se com a emoção "PERTENÇA"

As pessoas vão conversar para o café para ter o "alimento diário" de pertencer a algo, o que não acontece se ficarem solitários em casa, por isso quem lhes quer bem insiste em que vão conversar com os amigos.
Pelo contrário, nas prisões fazem sofrer fechando-os na solitária e eles tentam sobreviver entrando em gangs clandestinos de pertença. Pertencer a algo é um instrumento de sobrevivência, vide os relatos de prisioneiros de campos de concentração (Vitor Frankle, por ex.) e as técnicas de tortura para domínio e subjugação (Stanley Milgram, por ex.).

O abraço é a expressão física da emoção de pertença e os "likes" nas redes sociais são a sua expressão digital. Estar apaixonado é "pertencer", des-apaixonar-se é deixar de pertencer.


Claques de futebol são grupos percorridos pela emoção de Pertença, e quanto mais "atacados" mais coesos, pois a emoção é mais intensa.
Assim, a solução para as desfazer não é atacar o Para quê impedindo Objectivos, é fragilizar o Porquê promovendo desagregação.
A solução para as fazer não é fomentar o Para quê com Objectivos, é intensificar o Porquê com emoção de unidade, por exemplo, a sensação física de ombro-a-ombro.


Em conclusão, - "Eu pertenço ao Benfica porque vivo a emoção de pertencer-partilhar uma crença".

Por experiência pessoal, estando na Tailândia, em Bancoque, PatPong,

passeando nas ruas, de repente ouvi falar português e tive a nítida sensação de estar "acompanhado", a emoção da pertença faiscou no meu sistema límbico.

Segundo a teoria, se a própria língua é uma raridade no local em que se encontra, ouvi-la de repente detona sempre esta sensação. É vulgar que, em segundos, se fique "amigo de longa data", se converse fluidamente, se juntem projectos, sentando-se a conversar. A pertença detona padrões instantâneos.

A pertença, pelo facto de partilhar as mesmas crenças, induz que a segurança, lealdade e amizade são certezas, criando assim uma espécie de mecanismo de sobrevivência de base psicológica. Na natureza, mesmo animais com padrões de solitários têm momentos de partilha.

Sendo a Pertença uma emoção originada no sistema límbico é causadora de respostas a Porquê's originando relações de base Inspiração, e não Manipulação, necessariamente provocam Para-quê's e Como's inovadores, anormais e estranhos, levando o cepticismo natural que nos leva a desconfiar:

Aconteceu várias vezes, pois eles "sabiam" que era seguro
vide a nítida confiança nos porquinhos

A gazela afastou-se sem problemas e não era um leopardo eram três

Se por truques de ficção cientifica, pensarmos em Portugal e sua crise, por muitos Para-quê's e Como's que nos inundem como soluções, a emoção de Pertença Social parece estar a desaparecer, não só nos processos políticos como nas relações sociais profissionais (Saúde, Apoios Sociais,… até em simples telefonemas) e a relação hoje mais vulgar nem é de Inspiração, nem de Manipulação, é simplesmente:
- "Isso não é comigo…!!".
Não sei se o País está melhor mas, se está, este não é o meu País e estes partidos não me pertencem, não por serem direita ou esquerda, laicos ou religiosos, republicanos ou monárquicos, simplesmente por não saberem o que é a responsabilidade de PERTENÇA.


segunda-feira, 24 de março de 2014

Há dois estilos de relação, qual é o seu?


Continua em: (clickar)

2  - (cont.) O Porquê e o Para-quê na vida,  de 27 Mar 2014.
3 - (cont.)  Novo partido e o Porquê, Para-quê e Como, de 02 Abr 2014


Todos nós nos relacionamos com outros por pensar, agir, comunicar e, independentemente do conteúdo, a questão principal é... como o fazemos? Qual é o estilo?

Extremando (zeroing) posições pode dizer-se que só há dois modos para o fazer, por manipulação ou por inspiração.

Se depois de uma conversa com alguém sente que apetece "mandar tudo ás urtigas", fazer nudismo no Polo Norte, enfiar-se na cama a chorar para cima do saco de água quente, assistir a 10 ou 20 descargas de autoclismo, ou...amarrar um sapato no topo da cabeça e ir dançar para a discoteca…

…então sim, se isso aconteceu, não há dúvida, acabou de ser manipulado(a).

Se ainda lhe aparece um sorriso na cara e sente um certo conforto na alma é porque sofre de masoquismo e precisa dele em dose cíclica ou, em aditismo grave, de uma dose diária. 

A arte do "chico esperto" não é manipular os outros, é manipulá-los mas eles gostarem, agradecerem, quererem mais e convidá-lo para ir lá a casa conhecer a família e casar com a filha ou se é político tornarem a votar nele ad aeternum.

Quando vai ao supermercado com a lista de promoções e descontos, está a ser manipulado na decisão. 
Quando vê uns sapatos que lhe trazem sonhos diferentes, ficando com o corpo mais leve, sentindo-se elegante e com um sorriso distraído no rosto, então está com a inspiração a controlar a decisão.

Pois é, os supermercados jogam na manipulação que sossega as pessoas e as modas jogam na inspiração que as sobressalta, uns usam táticas de vida-rotina, os outros usam táticas de vida-aventura, mas para alguns isto também é manipulação. 

A diferença está em que a inspiração pode funcionar em dois processos distintos.
Num deles o resultado está fechado (closed), pré-determinado, por exemplo, viver a aventura de comprar o vestido da montra.
No outro o resultado está aberto (open), indeterminado, por exemplo, viver a aventura de se vestir diferente, desde uma camisa havaiana e chinelos para ouvir ópera no S.Carlos até um pijama de gala com medalhas e boina para dormidas de cerimónia.

Como analogia, pode-se pensar num autocarro público em que o motorista conduz o carro e o passageiro vai para onde o motorista quer. Pelo contrário, num taxi público o motorista conduz o carro mas vai para onde o passageiro quer. O primeiro caso corresponderia a um processo de manipulação e o segundo a um processo de inspiração.
As democracias e seus lideres também têm a mesma diferença:

- Uns inspiram liderados para ouvirem bem e obedecer mais e irem para onde os lideres querem. As técnicas utilizadas são de diálogo fechado e reforço da "repressão democrática".

- Outros inspiram os liderados para ouvir bem e pensar mais e melhor, decidindo para onde querem ir. As técnicas utilizadas são de diálogo aberto e destruição da "repressão democrática".

É fácil diagnosticar um ou outro estilo, basta ouvir as frases banais desde um diálogo amoroso, político ou entre amigos, até conversa pais-filhos, argumentações inter-colegas ou sociais, de preferência quando em crise ou conflito pois neste caso tudo vem à superfície e as máscaras caem. 

Imbecil manipulador
Os índios Lakota (Sioux) dizem que se deve agradecer aos deuses a sorte de existir um imbecil a perseguir-nos com manipulações. 
Na verdade, eles são uma prenda dos deuses, um desafio oferecido para nos desenvolver e divertir, pelo que se deve bater palmas e dizer -"Que bom...!!!", considerando essa perseguição como "material pedagógico" para fazer experiências e aprender a "via do guerreiro". 

Ficar com raiva, fúria ou ódio é o mesmo que todos os dias tomar veneno para acabar com uma doença. Realmente a doença acaba porque se morre e os cadáveres não têm doenças, para haver doença é preciso o corpo estar vivo.


É por isso que a medicina-que-trata-doenças nunca faz erros, ou seja, ou a doença desaparece ou a doença deixa de existir porque o corpo morreu. 
Todavia, a medicina-que-trata-doentes pode ter insucessos, pois falha quando o doente morre. Assim, ser "médico de doenças" é uma profissão menos arriscada do que ser "médico de doentes".

PS- Um médico de doenças pode chegar atrasado e deixar as doenças à espera, porque as doenças não se zangam, nem fogem, até ficam mais visíveis e desenvolvidas.
Porém, um médico de doentes não pode chegar atrasado, nem deixá-los à espera sem tratamento, porque podem piorar e até morrer.
Penso que são duas profissões diferentes apesar de parecidas, exactamente como sucede com o médico que opera e o médico que faz autópsias, pois as preocupações profissionais e os resultados a obter não são os mesmos. Num hospital convém checkar bem se o destino não está trocado e vão mesmo para operação e não para autópsia.


Quem estiver atento reconhece facilmente o "chico esperto" pois a manipulação é sempre óbvia, por isso é que funciona. Ninguém faz raciocínios complicados para ser manipulado, deixa-se "levar" e acontece. O truque é exactamente este, funciona porque ninguém pensa, se pensar não funciona. Aliás a frase mais comum dita depois de manipulado é:
 -"…mas que parvo que fui…não pensei!".
Exemplos:
- "Eu sou de confiança, pode acreditar em mim!"
- "Sou o teu melhor amigo, tens que me fazer isto!"
- "Nunca enganei ninguém, todos sabem disso!"
- "Claro que fui fazer serão, TU conheces-me…se não fosse dizia-te!"

De uma forma sucinta as manipulações tem duas vias que se podem complementar:

1 - Por medos que afastam do objectivo a recusar, podendo (ou não) aproximar do desejado;

- "Os que votarem a proposta [A] são despedidos",

tal não significa que votem na [B].

2 - Por aspirações que aproximam do objectivo desejado, podendo (ou não) afastar do recusado;

- "Os que comprarem o produto [A] têm um bónus de X%",

o que não impede a compra do produto [B].

Nesta perspectiva, várias técnicas podem ser usadas, tais como, alterar preços, fazer promoções e descontos, criar medos, fomentar aspirações, criar identificação com mitos, apresentar novidades e inovações, fazer pressão de pares e/ou de autoridades, etc.

Por exemplo,


…e agora neste anúncio, sentem algo diferente?


Os comprimidos funcionam ou não? Qual é a mensagem? Ela está validada ou não? Qual é o problema apresentado?

Entretanto, apareceu-lhe um sorriso na cara???

Se sim…sofreu uma inspiração. Por outras palavras, fez uma alteração de status quo psicológico.

Segundo o modelo teórico quando há inspiração "dá-se um salto para outro registo" e mesmo que a direcção possa ser prevista há sempre imprevisto na possibilidade aí optada e colapsada…isto é, a decisão decidida depois da alteração de status quo.

A dinâmica de manipulação versus inspiração processa-se entre o Porquê, Como e o Para quê (sendo este normalmente apenas versões de "o quê se faz"), existindo vários padrões possíveis de interacção. Como exemplo, existe o modelo de Simon Sinek, o W2W (Why-to-What) ou, na Pedagogia, os modelos de motivação inspiracional, bem distintos da motivação manipulatória para incentivar o estudar, usada em mais de 90% dos casos escolares e/ou familiares.

A motivação inspiracional na Pedagogia baseia-se em criar sucessivos pontos de alteração de status quo da perspectiva pessoal acerca de descobrir o conhecimento (que vulgarmente se chama estudar).
A dinâmica dos hackers está exactamente em serem aditos a descobrir o conhecimento, ou seja, são aditos em estudar.

É interessante que quando são presos e os Tribunais os condenam, nas prisões é-lhes proibido continuar a estudar a sua área, isto é, a internet fica-lhes vedada mas podem estudar religiões ou o jogo do berlinde, só o seu "vício" não é permitido.


Dinâmica do Porquê-Como-Para quê



Porque é que o Sr. José 

vai a correr para a estação do combóio ???

O que responde ????

Quer experimentar responder ???

A maior parte das vezes (em mais de 50%) a resposta é:

- "Como é lógico é para apanhar o combóio…!!!!

Pois, o problema é muito simples, apesar de ir apanhar o comboio não é por isso que ele vai a correr.

A pergunta pretende saber qual é a causa da corrida e a resposta diz qual é a consequência da corrida.

O Porquê é a causa, mas o Para quê...é a consequência.

A causa da corrida é estar atrasado e pretender reduzir o tempo gasto no caminho. Se não estivesse atrasado, continuaria a querer apanhar o combóio, mas não só iria mais devagar como até se podia sentar um pouco a ver os passarinhos.

Esta troca, esta promiscuidade mental entre causas e consequências, é um factor importante na cofusão entre manipulação e inspiração.

Se se considerar que há três factores, Porquê, Como e Para Quê/O Quê, as suas relações têm o modelo:


em que a Inspiração só nasce no Porquê e a Manipulação nasce no Para Quê/O Quê e/ou no Como.

A Inspiração origina o nascimento de um novo status quo, um novo estilo de vida, uma alteração da crença e/ou perspectivas existentes e portanto dá origem a novos "Como's" e "Para Quê's". Deste modo surgem novos inventos, teorias, religiões e conversões a novas vidas, estilos, etc. Fomenta lealdades e tem durações de longo prazo.

As Manipulações fazem contractos de trocas a curto prazo e não criam lealdades, pois o Supermercado dá-me 30% de desconto mas não lhe fico leal, nem choro com os seus problemas. É tudo apenas negócio, com o padrão "relação para usar e deitar fora".

Quando os pais/professores manipulam para que se estude, estão apenas a propor um negócio com efeitos a curto prazo que só funcionará enquanto existir um lucro "apetitoso". O problema é que esta técnica faz a relação com o manipulador tornar-se cada vez..."menos apetitosa". A médio-longo prazo o manipulador perde a guerra.

Há vários filmes sobre relações amorosas em que este modelo de manipulação é apresentado.
Simplesmente na maior parte, o argumento faz aparecer perto do fim o explodir de um "Porquê com efeitos de Inspiração" e tudo se recompõe no padrão "Cinderela", isto é, [...casam e são muito felizes] e os espectadores também saem felizes com o dinheiro gasto.

Porém há filmes, poucos, em que o efeito "Cinderela" não aparece, os chamados "drama". Como exemplo, o filme "A guerra dos Rosas" e não a "Guerra das Rosas" como foi traduzido em português, pois Rosas é o apelido da família em guerra e não uma luta de flores no jardim ao estilo Walt Disney.

PS - É interessante notar que um filme de guerra em que morre muita gente menos os protagonistas que casam e são felizes como a Cinderela é chamado um filme de acção ou aventura. Mas se ninguém morre excepto os protagonistas é chamado um drama. Conclusão: quando os outros morrem é uma aventura, quando eu morro é um drama.


O modelo "Inspiração-Manipulação" na política e partidos

Se se aplicar este modelo "Inspiração-Manipulação" à politica e aos partidos ainda é tudo muito mais interessante.

Numa Democracia todos os Partidos se constituem PARA "ser governo", portanto, "ser governo" não é o Porquê do Partido, não é a causa que origina a sua existência, mas sim é a consequência da sua existência.

Ser governo é muito simples, é só colectar dinheiro, gastar dinheiro em acções-resultados desejados e claro gerir esse equilíbrio, o que pode ser bem ou mal feito. É PARA isto que se quer ser governo.

Assim, o factor crucial é ser bem ou mal feito o que depende das decisões que se tomam e assim chegamos ao COMO do ser partido, ou seja, qual é a técnica de tomada de decisões.

Assim, a captação de adesões partidárias (vide as campanhas eleitorais) baseiam-se só no PARA QUÊ, nas diferenças onde se vai gastar o dinheiro (Objectivos) e no modo como o colectam (Impostos), argumentando a favor da sua proposta e contra a dos adversários. É como decidir qual é o supermercado que se usa a partir dos descontos e promoções futuras.

Não tenho nada contra, mas realmente está-se no jogo das manipulações negociais, isto é, quando a vantagem se tornar menos apetitosa muda-se de fornecedor. Se nenhuma for apetitosa torna-se absentista.

Em 1974, e durante algum tempo, o PORQUÊ da participação política era claro, sentia-se uma "Inspiração" que correu mundo e o mundo correu para cá, e a participação explodiu. Depois o modelo passou para "manipulação" e o absentismo cresceu.

Todos os partidos dizem o mesmo com algumas variações no PARA QUÊ, todos usam a mesma técnica de COMO tomar as decisões, é o chamado modelo do tropismo social democrático: uns (poucos) decidem e os outros (muitos)  abanam a cabeça. 
Alguns maldizentes chamam-lhe a técnica do agricultor: fazer rebanhos e levá-los como e para onde se quer, os bendizentes chamam-lhe disciplina partidária democrática.

De qualquer modo, parece que na dinâmica das adesões só entra o PARA QUÊ pois o COMO é subentendido, óbvio e pressionado a não se alterar (vide o recente caso do Manifesto dos 70).

As adesões partidárias vivem da mesma dinâmica das adesões ao Continente ou ao Pingo Doce ou à mercearia da esquina. Vive-se de negócio político e não de inspiração política.

O interessante é que nas adesões a clubes de futebol estes têm todos têm o mesmo PARA QUÊ e o mesmo COMO, mas cada "fan" chora, ri, tem ataques cardíacos em frente à TV com o clube da sua alma. É uma lealdade a longo termo que, quer ganhem ou percam jogos e campeonatos, não desistem nem abandonam o clube, chegando a fazer sócio o neto da filha grávida que ainda nem nasceu.

Segundo os teóricos o que se passa com os partidos são sintomas de manipulação pura (talvez de "chicos espertos" com técnicas de venda) e o que se passa com o futebol são sintomas de inspiração. 
A minha expectativa é conseguir encontrar o PORQUÊ, o que ainda não consegui, apesar de discretamente me cansar a perguntar:

- "Porque é que é do Benfica? ou do Sporting? ou do Alguidares de Cima Futebol Clube?

As respostas obtidas são muitas vezes do tipo PARA QUÊ, mas deve ser apenas um problema de clarificação porque não agem como tal…para mim é ainda um mistério provocante.

- "Quer que o seu filho estude? Não use Manipulação…use Inspiração."

- "Quer que o seu par goste de si? Não use Manipulação…use Inspiração."

- "Quer adesões partidárias? Não use Manipulação…use Inspiração."

A inspiração vem das emoções, e elas nascem no PORQUÊ, provocam rupturas no status quo e inovam COMO's e PARA QUÊ's.

Se um novo Partido não detona inspirações será apenas mais um novo velho partido com PARA QUÊ's e COMO´s iguais aos outros e terá vida curta
apenas com mais uns melgas a pedir votos


sábado, 15 de março de 2014

A mulher no shamanismo



Do que tenho lido parece que a mulher teve sempre um papel preponderante no shamanismo e nas religiões até que o patriarquismo resolveu tomar o poder e começar com processos tipo "As Bruxas de Salem", chegando mesmo a inventar um método de investigação criminal simples, fácil e rápido para detectar as culpadas de bruxaria, ou seja:
[As mulheres acusadas de bruxaria eram amarradas e deitadas à água.
Se se afogavam... eram inocentes e enterradas na Igreja ou cemitério.
Se não se afogavam… eram bruxas, retiradas da água e queimadas] 
Q.E.D.
De qualquer modo não conheço, e penso que não existe, um livro sobre processos semelhantes para homens, eventualmente chamado "Os Bruxos de Salem".




Nas culturas primitivas, as mulheres são vistas com três características principais, inatas e sempre activasoriginadoras de respeito e consideração por toda a tribo, e que as prepara para a função de shaman, em que

[…um shaman é reconhecido como um médico que cura, um mágico que faz milagres, um sacerdote místico e poeta, um "guia de almas" que não julga mas ajuda nas transições..],

e são:





1 - Criar vida;

Na verdade, o homem comparticipa no nascimento da vida porém a mulher, com uma versão melhorada do software instalado no homem, participa durante nove meses (gravidez) numa ligação por cabo com o novo ser, o que é fisiologicamente vedado ao homem pois o software deste só lhe permite comunicar por "wireless" depois do nascimento.
Quer nos processos da vida, quer no mundo informático, é normal as primeiras versões serem sempre mais primitivas, ou seja, "a costela do Adão originou evolução de software na segunda edição".

Durante a gravidez, filho e mãe, durante 24 horas por dia, trocam informações por cabo ajustando e construindo mutuamente bases de dados.

Por exemplo, o novo ser durante o seu desenvolvimento ouve constantemente a voz da mãe (se falarmos com os ouvidos tapados ouvimos a nossa própria voz vinda do interior) e segundo alguns investigadores o bebé depois de nascer reconhece facilmente não só a sonoridade da voz materna como até a sonoridade da própria linguagem que a mãe usa.

Parece que a "educação" social do bebé começa no ventre da mãe não só no plano bio-químico com a alimentação que o corpo da mãe lhe fornece, como no plano bio-neural com as "aulas" que o córtex da mãe lhe comunica.

2 - Alimentar e apoiar;

Considerando a capacidade da mulher de uma ligação por cabo com um ser humano, alguns investigadores colocam a hipótese de ela possuir o correspondente script neural pronto a funcionar e mais activo.
Este script pode originar processos comunicativos e relacionais mais intensos e sensíveis, estando talvez na origem do senso comum de que a mulher tem maior capacidade intuitiva e empática e uma mais fácil percepção dos fenómenos relacionais.

O homem precisa de mais treino não só para detonar essas capacitações, como também para as libertar de bugs e prisões da racionalidade(??) de crenças instaladas e ainda ter uma maior facilidade em "perder" e bloquear esse script.

Pelos relatos de culturas tribais parece que o treino do shaman masculino é sempre mais longo, formatado e controlado do que o do shaman feminino. Este é não só mais rápido e informal, como  muitas vezes é feito apenas por via familiar feminina, a chamada "aprendizagem por osmose", numa participação de espectação, acção e diálogo "a propósito" (by the way).

Possivelmente, é a mesma lógica que origina nas tribos o hábito da chefia da caçada ser entregue ao grupo masculino e a chefia do acampamento pertencer ao grupo feminino.

Possivelmente, não é por falta de capacidade da mulher para a caçada, mas sim por falta de capacidade do homem para gerir as teias relacionais do acampamento e até por ser um desperdício usar capacidades mais evoluídas em tarefas menos exigentes…seria o mesmo desperdício de um palonço que comprasse um quadro do Columbano para o pôr na janela a tapar o sol.

Talvez ainda por reflexo da cultura tribal, no tempo da minha Avó dizia-se:

"Quem manda na família é o homem, mas quem manda no homem é a mulher".

Aliás é interessante notar que todos os homens são educados por mulheres, quer na gravidez quer na infância, e não acredito que as mulheres, como grupo, abdiquem tão facilmente do poder. Com certeza que durante esse período de aprendizagem, são instaladas algumas mensagens subliminares de controlo, como por exemplo acontecia na Idade Média com a cultura da Cavalaria e dos Trovadores e o seu dogma da "donzela em perigo".

Acredito também que deve haver excepções, ou seja, algumas mulheres educam os futuros homens fora desse controlo feminino, uma espécie de variante da Síndrome de Estocolmo na identificação com o dominador.
Percebo agora porque há tantas histórias de problemas de "sogras" nos casamentos e tão poucas de problemas de "sogros".

3 - Apoiar saúde (que é diferente de curar);

Na perspectiva do shaman ele não cura pois a crença diz que o corpo é demasiado complexo para que um "exterior" (médico, curador, etc) possa ter a veleidade de querer gerir essa complexidade. 

A solução é deixar que a inteligência corporal resolva o problema, assim o shaman actua fazendo  [...acordar, intensificar essa inteleigência…], porque o "curador" é sempre o doente com a sua inteligência corporal.

Na prática, num Hospital um médico trata um braço partido dando remédios e pondo talas e depois manda o doente para casa e ele que se cure, isto é, cole os ossos, crie novas células todas diferentes consoante a função que vão ter (músculos, ossos ou pele, etc), e impeça infecções aumentando os glóbulos brancos, se necessário .

Se o doente não se cura a frase normal é [...ele não está reagindo…], ou seja, traduzindo […ele não se está curando…].

O processo com um antibiótico é semelhante, ele é um recurso a ser utilizado pelo doente para  […reagir à doença…]. Se em vez de bactérias forem vírus o processo é mais evidente.

Numa analogia, quando se diz que aquele agricultor produz azeitonas e não maçãs é falso, pois quem produz azeitonas é a árvore, o agricultor, como um shaman, é um facilitador, as azeitonas só se produzem …se a árvore quiser, e se o agricultor só tiver oliveiras, mesmo que queira e ordene, nunca terá maçãs.

Esta perspectiva não anula a função dos técnicos de saúde, antes pelo contrário torna-os fundamentais pois são a garantia de um correcto factor contextua, o chamado Ambiente Operacional dos sistemas complexos, aspecto crucial nesta perspectiva e claro um factor de condicionante positiva de todo o processo.
Utilizando o exemplo do braço partido, pôr uma tala e ela estar correctamente colocada é imprescindível para o posterior bom funcionamento do braço. Se estiver mal colocada duvido muito que qualquer inteligência corporal resolva o problema.

Medicine Woman é:

She is the mother comforting a child

She is the teacher in the classroom

She is the midwife bringing new life

She is the nurse holding the hand of the sick

She is the stranger who shares a smile

She is your friend who cheers you on



Encontrei uma conjunto de imagens de shamans femininos (Medicine Woman) de tribos da cultura índia da América do Norte que são interessantes (ver Patricie Wyatt e Susan Freilicher):







terça-feira, 11 de março de 2014

Vida é estar entre ANTES e DEPOIS


Este passeio pelas culturas tribais tem sido interessante.

O "manual universitário" de shamanismo do romeno Mircea Eliade (Shamanism: Archaic Techniques of Ecstasy) é um livro fundamental para uma tese universitária sobre a matéria, mas é espécie de doce-amargo, motivante e aborrecido, não conseguindo decidir se continuo ou desisto e me dedico a relatos de "antropólogos viajantes" bem mais atraentes.

Grande parte do livro é sobre a função shaman (como é chamada na tribo Evenki, Sibéria) e suas características na Asia Central, analisando também outras regiões do planeta.
Com ele, nasce o termo shamanismo na cultura ocidental:
de Dr. A. Hugentobler 
[…um shaman é reconhecido como sendo um médico que cura, um mágico que faz milagres, um sacerdote místico e poeta, um "guia de almas" que não julga mas ajuda nas transições..].
As práticas shamanicas existem em diversas culturas tribais para além da Sibéria e da Asia Central, tais como, índios Apaches, Sioux, Lakota, etc na América do Norte, Huichol e Toltec no México, Paqo no Peru, Aborígenes na Austrália, Shipibo na Amazónia, tribos da Oceânia, Tibet, China, povos germânicos e seu deus Odin, gregos e persas, etc.

O interessante nesta viagem não é descobrir diferenças, mas sim encontrar semelhanças nas crenças e técnicas operativas usadas, às vezes até reconhecendo práticas actuais de religiões e seitas religiosas pelo que, aproveitando boleia da moda de genes como causadores de comportamentos, apetece perguntar se teremos também algum gene shamanico clandestino e a funcionar "undercover".

Por exemplo, 
as pinturas rupestres e as práticas shamanicas usam a chamada "arte e/ou mágica simpatética"(C.  Begouen) baseada na [...relação ou identificação entre uma imagem e um conteúdo, antropomórfico ou não…] muito utilizada quer na primitiva preparação mágica para as caçadas quer, hoje, em templos e cerimónias religiosas e ainda na criação de climas terapêuticos, místicos e/ou protocolares, desde os emblemas clubistas na lapela e reverências a símbolos políticos, militares, desportivos,... até às velas acesas em casa a símbolos religiosos ou fotografias de lideres.

Qualquer templo religioso ocidental ou oriental, qualquer instituição política ou comercial, qualquer cerimónia desde religiosas a terapêuticas, familiares, burocráticas, desportivas, íntimas ou públicas usam "magias simpatéticas" através de símbolos, ícones, bandeiras, vestuário, adornos, tatuagens, gestos padronizados e cantos/frases ritualizadas…criando estados emotivos de choro e felicidade, catatonia e agitação, obediência e adesão, etc.

Aliança de casamento,
um dos símbolos mais vulgarizados,
indo de "prisão-posse" a "adesão-partilha"
às vezes difícil distinguir o que está em uso.
Numa palavra, os hábitos pré-históricos e shamanicos de viver crenças por processos mágicos através de símbolos perduram até aos dias de hoje, vide as claques de futebol, a comunidade de crentes, os comícios políticos, saldos comerciais de marcas, rituais sociais de estatuto, amorosos, familiares, etc.

O comércio de símbolos, respondendo à magia simpatética com origem na pré-história e perdurando até aos dias de hoje, é um negócio florescente de objectos religiosos, militares, laicos, amuletos e feitiços, muitas vezes entrelaçados entre si.


Noutro exemplo,
sobre o viver, na perspectiva shamanica das tribos índias da América do Norte (Sioux, Lakota, etc), surge que:
[… a vida são as marcas dos sonhos vividos nos relâmpagos do presente e deixados na memória do corpo como a passagem do futuro para o passado.] 
Por outras palavras, vive-se no ano presente entre os anos passados e os anos futuros. Porém também é verdade que se vive no mês presente entre os meses passados e os meses futuros.

Continuando, vive-se o dia presente entre os dias passados e os dias futuros…até chegarmos ao presente segundo existente entre os segundos já vividos (passado) e os segundos a viver (futuro).

Uhau…o meu centésimo-milésimo-de-segundo que era futuro agora é presente e quando acabar de ler  esta palavra  já é passado. Então…
[… o Presente é um fugaz relâmpago entre o infinito do Passado na memória e o infinito do Futuro nos sonhos.]
ou seja, o Presente não existe é um Futuro que, assim que aparece, desaparece no Passado, ou como salienta a cultura shamanica […o viver é apenas fazer os sonhos (Futuro) se tornarem memória (Passado)], o que abre um mundo de interrogações sobre - "Então,…como se vive?"

Segundo os Lakota é preciso não se deixar apanhar pela Iktumi, a aranha traiçoeira.

A contínua passagem Futuro-Passado é feita pelas emoções criadas pelos sonhos e gravam a memória, ou seja, sem emoções não há vida e a morte é o fim das emoções. A ponte que liga o ANTES e o DEPOIS são as emoções.

O "guerreiro da vida" tem o seu foco nas emoções pelo que na cultura shamanica se encontram alguns métodos práticos e fáceis de usar para análise desse portal, tais como:


Técnica 1

A sua base é procurar a experiência havida e pensar sobre ela, com a crença de que experiência só existe quando é expressa em emoções, sem emoções nunca há experiência…há relatos.


Fase A:
1º - Procurar na memória um evento crítico vivido, problemático ou infeliz, e escrevê-lo ou gravá-lo ou contar a alguém, descrevendo-o com o maior número de detalhes possíveis mas sempre na perspectiva de uma marionette (vítima sofrendo interferências) manipulada por "ELES", os que fazem todas as decisões e acções sofridas, portanto, nunca utilizando o EU, por exemplo:

- "Ia no carro, houve um desastre, bateram e levaram-me para o hospital";

2º - Depois contar  o mesmo evento mas na posição do "guerreiro da vida" (herói e não vítima), utilizando sempre o EU e nunca o sujeito indeterminado, por exemplo:

- "Eu guiava o carro, bati noutro e fiz um desastre, depois eu fui para o Hospital". 

PS1 - Isto não significa assumir culpas, significa apenas contar a história a partir de si, porque se dois carros chocam cada um deles bateu no noutro, não é um problema de tribunal com culpa-castigo de origem do evento, é um problema de atitude-filtro de vida de posição perante o evento.

É interessante ver quantas vezes em cada hipótese se usa a posição da outra alternativa. 
Por experiência pessoal, quando a posição normal na vida é de "vítima" ao fazer o relato de "herói" a maior parte das vezes usa-se a posição de vítima e vice-versa.

PS2 - Normalmente na posição de vítima há "amnésia das possibilidades e rigidez nos limites", não sendo uma atitude de "guerreiro da vida", e na posição de herói há "pesquisa de possibilidades e flexibilidade nos limites" sendo esta a atitude do "guerreiro da vida".

Fase B:
Em cada um dos relatos anterores fazer uma análise, começando do principio do relato, escrevendo ou re-escrevendo todas as emoções-sentires que recorda dessa altura:

1º - Aconteceu isto: primeira situação descrita
2º - com isso senti isto: emoções-sentires
3º - fiz isto: acção-acto decidido e feito
…e assim sucessivamente...
4º - depois aconteceu….etc etc, até ao fim

Na prática, ficará uma lista de emoções-sentires tiradas dos dois relatos. O foco pretendido é apenas observar-analisar, nunca julgar ou imaginar consequências, decisões, acções.

No final desse passeio, analisar como se sente e quais as emoções agora dominantes.


Técnica 2

Este método foi vivido pessoalmente por mim, alguns anos atrás, num grupo de 20 pessoas de superficial conhecimento mútuo, num encontro de primavera nos Alpes italianos. Durou cerca de 4 horas, coordenado por uma "Medicine Woman" da cultura Sioux pelo que na, minha memória, a experiência sempre ficou conhecida como

Psicanálise Índia

1. No início foi distribuído a cada um de nós um A4 com um desenho (ver em baixo), uma estaca, uma corda com 5 metros com duas marcas a meio, e um rolo de fio com vários metros:


O esquema representava os pontos cardeais e colaterais, estando em cada ponto uma animal simbólico representativo (por ex. urso), uma cor e seu significado emotivo (tristeza, dor, raiva, alegria, etc).
A corda tinha 2 marcas, uma representando efeito mínimo e a outra efeito médio.

2. Todo o grupo foi para um prado na montanha, suficientemente grande para cabermos todos mas afastados 10/15 metros uns dos outros.

3. A primeira tarefa foi cada um encontrar um espaço onde se sentisse bem, considerando o terreno, o sol, o vento, etc e espetar a estaca no meio desse espaço, amarrando-lhe a corda e esticando-a para andar à roda, fazer um circulo e verificar se não interferiria com o circulo do vizinho.
Se tudo estivesse OK, colocar na estaca um pequeno cartão com um nome de código.

4. Depois, durante 10 minutos cada um foi procurar 4 pedras que gostasse e cuja cor, própria ou por colagem (musgo, terra, etc), se aproximasse das cores descritas no A4 e também 4 objectos (flores, ramos, etc).

5. Regressados ao local, a tarefa foi construir o circulo simbólico pessoal utilizando a corda amarrada à estaca, com a orientação geográfica correcta, isto é, a pedra-cor (e o animal) representante do Norte deveria estar na parte norte do circulo.

6. Tudo pronto, começou a pesquisa emocional

A coordenadora e ajudantes ciclicamente distribuíam uns cartões com perguntas a que teríamos que responder (no máximo 5 minutos) e em função da nossa resposta emotiva a essa questão, escolher uma das 8 emoções listadas para cada ponto cardeal ou colateral …ir para lá. 

Nessa posição e agarrando a corda ligada á estaca, escolher o ponto de intensidade da emoção. Se intensa ficar onde está, se média ir para a marca superior da corda, se mínima ir para a marca mais perto do centro.

PS - Como exemplo de uma questão:
 "Pensar numa decisão-acção nossa no passado que ainda hoje, quando nos lembramos dela, temos uma cólica na barriga". Qual a emoção sentida hoje ?

Chegado ao ponto correspondente a essa emoção, fixar lá a ponta do rolo de fio e, depois, mantendo-o sempre connosco ir respondendo às questões seguintes sempre com o mesmo método, desenrolando o fio no terreno. Deste modo era desenhado no terreno o nosso caminho das emoções. Exemplo:


7. Depois de tudo acabado, foi feita a proposta de passearmos por todos os círculos e se encontrássemos um cujo desenho fosse muito parecido com o nosso, tomar nota do nome de código, juntar o nosso nome e entregar à coordenadora.

8. Quando duas pessoas mutuamente se escolhiam,  constituíam um par para conversar livremente entre si.

No meu caso pessoal, eu e uma professora italiana escolhemo-nos mutuamente pelo que nos juntámos e começámos a conversar. Nunca tínhamos reparado um no outro, mas ao fim de 2 horas, já de noite e com frio, foram-nos chamar para jantar, pois a conversa fluía sem interrupção. Nunca mais a vi.

Quando depois do jantar contei isso à coordenadora e ela respondeu que era normal isso acontecer, pois quando há uma correspondência é sempre muito difícil acabar a conversa.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Mudar de vida ou mudar de crença ???


Estive a ler uns artigos sobre genética. Hoje ler notícias científicas é mais divertido do que ler boa Ficção Científica. 
Depois de ler, na Ficção Científica fica-se a pensar por analogia, mas nos artigos fica-se a pensar no real pois, mesmo se céptico (se for cepticismo saudável), fica sempre a dúvida "…e se for real?".

Um artigo que li dizia que na estrutura genética cerca de 10% está activa e 90% inactiva, sendo esta  parte uma espécie de "lixo" sem funções ou então não se sabe para quê.
Outro artigo dizia que em embriões iniciais de várias espécies, a nível genético, não se distinguem uns dos outros, só com o posterior desenvolvimento se vão diferenciando, pois alguns genes tornam-se activos e os outros inactivos, ficando talvez estes a fazer parte do "lixo".

Como exemplo, será que o gene do nosso cóccix fica activo nos animais e inactiva-se nos humanos e portanto todos temos um cóccix rudimentar. No meu caso pessoal, fico feliz com a sua inactivação porque senão andava por aí com cauda como os nossos primos macacos, se bem que isso pudesse tornar bem interessante o desfilar nas modas.

Assim, uma analogia…

… somos uma espécie de computador que aparece já com diversos programas de software instalados (os genes) em que uns estão activos e outros não. Depois de nascer, e já no útero social, uns continuam só com o software de nascença activado e outros activam também alguns dos sossegados em standby. Na linguagem normal chama-se desenvolvimento educativo.

Isto levantou-me outra questão: - "Será que há duas evoluções: a "lenta" e a "rápida"?

A evolução da espécies do Darwin parece ser uma descrição da evolução lenta, mas a mudança de crenças parece ser um caso de evolução rápida mas, num caso ou noutro, ambas ocasionarão uma mudança de vida.

Aproveitando uma "boleia" das teorias de Darwin, pode colocar-se uma questão:

- "É a mudança de crenças que dá mudança de vida ou 
é a mudança de vida que dá mudança de crenças?

Lendo a Bíblia temos os dois casos:

A - Segundo o "Livro do Êxodo" a travessia de deserto foi uma mudança de vida destinada a preparar a nova etapa a viver na "Terra Prometida" com as crenças da nova lei, corporizada nas Tábuas da Lei entregues no Sinai. Foi uma mudança lenta de 40 anos.

B - Novo Testamento:

Conversão S.Paulo, Caravaggio 1600


Paulo, judeu romano, perseguia os cristãos, mas na estrada de Damasco, após uma luz e uma queda do cavalo, altera a sua crença para "cristão" e muda a sua vida:

de…romano perseguidor de cristãos,
passa para… cristão fugitivo de romanos,

ou seja, de forma rápida, mudou de crença e por isso mudou de vida.


Hoje fala-se muito em "mudar de vida" quer seja no plano do trabalho, vida pessoal, casamento, estudar, etc, mas é preciso distinguir entre mudar de vida com mudança de crenças assumidas e mudar de vida apenas por usar "óculos escuros", isto é, mudar apenas de maquilhagem.

Este último caso é muito vulgar nas "mudanças de vida em violência doméstica"…em que se passa de "cilindro triturador" a "docinho de coco" (disfarce difícil de não ser percebido) e depois tudo volta a ser como dantes.

De qualquer modo, parece que das duas alternativas anteriores, crenças --> vida ou vida --> crenças, o importante é que existam complementarmente. 

Como exemplo,
mudar de vida por mudança de crenças é a base da psicanálise e das conversões religiosas.

Na psicanálise procura-se no passado o gérmen da crença actual (traumas existentes), tentando a partir daí alterar o impulsor que a originou (desfazendo recalques), possibilitar uma nova crença e em consequência construir uma nova vida.

As conversões religiosas funcionam doutro modo. Nunca vi nenhum missionário preocupado com traumas e recalques religiosos prévios no passado, ou seja, fazendo um diálogo deste tipo com o possível futuro crente:

_ "Então diga lá...quais foram os traumas que o seu Deus actual lhe criou e quais os recalques de fé que precisa expressar livremente !"

nem fazer perguntas sobre a "família religiosa" em que viveu ou vive, nem como o educou:

- "Conte lá como era o sacerdote da sua actual crença e como se relacionava consigo!"

Porém, nas religiões e seitas religiosas, o rendimento quantitativo e qualitativo de conversões é muito superior à existente em qualquer psicanálise individual ou grupal, e os seus efeitos são muito mais rápidos, intensos e duradoiros.

A psicanálise é uma técnica individual mas as conversões religiosas são uma técnica de massas, tal como os partidos políticos, se bem que nestes uma grande percentagem muda de vida sem mudar de crenças. 

Talvez fosse rentável analisar bem as conversões religiosas de massas e procurar como alteram scripts de crenças e isolar factores susceptíveis de operacionalizar. 
Uma outra área de interesse para este estudo são as recrutas militares com séculos de experiência desde o Josué da Bíblia com a sua organização decimal até à tropas especiais de hoje ou aos próprios gangs informais de rua.

Penso que um factor comum nestes casos é que não se preocupam em tirar ou alterar algo que exista mas apenas se preocupam em pôr o que pretendem, não se preocupam em analisar o caminho feito, preocupam-se em analisar o caminho a fazer, não olham para o passado, olham para o futuro, não é um pensar […não isto…] é um pensar […sim aquilo…]. 

Aliás a própria publicidade funciona deste modo, não há cartazes […não comprem carroças da marca XYZ…] mas sim […comprem carros da marca XYZ…].

É importante salientar que tudo isto é apenas um exemplo da importância de pensar em "mudar de vida" em conjunto com "mudar de crenças" e não é um caminho a seguir ou uma solução a adoptar, o processo é complexo demais para simplicidades.

Uma área que penso interessante são os grupos de empreendedores agora na moda. 

Aplicando o par "vida & crença" aos ensinamentos dados sobre acções, métodos, estratégias e tácticas a aplicar, a pergunta que me surge é:

- "… e qual é a crença debatida???"

…e uma dúvida:

emigrantes são empreendedores ???
…e talvez outra:

os que não desistem são empreendedores??? 
e talvez a pergunta fundamental do empreendorismo e mudança de vida seja:
Qual a crença que os sustenta ???