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sexta-feira, 3 de julho de 2015

Aventura de pensar e os sentidos


Jacob Barnett, com apenas dois anos de idade, foi diagnosticado com autismo e com um futuro sem possibilidade de ter uma vida normal na sociedade. Foi verdade mas a verdade foi outra.
A mãe, Kristine, recusou aceitar o veredicto e retirou-o do sistema especial padronizado, estimulou a criatividade e deixou a criança livre para escolher seus próprios assuntos de interesse.
Com 11 anos de idade entrou para a faculdade e estudou astrofísica e física teórica e realmente não tem uma vida normal pois faz conferências e será um possível candidato ao prémio Nobel.
Ver conferência em Ted.com


A sua história encantou-me e resolvi ler sobre ele e ver outra vez o vídeo. O "caroço" da sua posição é "pensar e criar" e não aprender. Dado o seu interesse em ler sobre astrofísica e aprofundar o seu conhecimento, pareceu-me que haveria aqui uma discrepância de conceitos entre palavras e significados. Na verdade, ele não queria aprender (learning) apesar disso gostava de saber mais (learning).

De qualquer modo, resolvi aceitar o seu conselho de deixar de aprender e apenas pensar. Como experiência, isolei-me só com um bloco de desenho para mapear (road map) as ideias que iriam salpicar (plop, splash) a minha cabeça enquanto "matutava" aleatoriamente sem destino e sem plano, com a técnica "preguiçosa" da divagação lógica.

Road Map obtido (cópia no fim)


À partida, duas ideias teimosamente ficaram em standby. Uma delas era a posição de Jacob de "não aprender e substituir por pensar" porém agora, para mim "colada" à sensação de que ele tinha razão. A outra foi a minha preocupação com o próximo post do blog "Varrer os bugs da Democracia" com o tema "os indecisos e o futuro". 

A primeira ideia que saltou, e que escrevi, foi a relação indecisos e poder que acabei por relacionar com  a alegria do Jacob com a sua aventura de saber e a tristeza dos indecisos sem saber o que fazer. Não vi qualquer relação entre as duas, mas a palavra experiencial foi escrita, titulando e unindo os dois aspectos.

Por arrastamento, surgiu-me a ideia de que experiência é a união de estimulações externas e estimulações internas e apareceu-me uma analogia. Nadar concentrado na estimulação interna de sentir a frescura da água acabará por bater com a cabeça numa rocha (estimulação externa) e nadar, preocupado com as rochas (externo) e não sentindo o cansaço (interno) pode não conseguir regressar por estar longe.

Nos dois casos não há integração das duas estimulações (interna e externa). Durante algum tempo fiquei aqui parado, em "transe", em standby. Será esta a questão de Jacob e dos indecisos?

Este road map estava a ficar confuso. Para piorar, ideias da cultura tântrica e ying-yang saltaram para o papel misturadas com Einstein.

Einstein diz que tudo é energia, com frequências e sincronismos. Na cosmologia tântrica o universo é visto como um processo contínuo de união entre energia (vista como princípio feminino) e consciência (vista como princípio masculino), união simbolizada na imagem ying yang equilibrados na sua mútua penetração-recepção, símbolo esse que desenhei:


A questão das frequências e do sincronismo arrastou-me para o sentido da visão e para o indivíduo daltónico que não vê certas frequências. Os cinco sentidos ficaram a dançar na minha cabeça e lembrou-me um vídeo onde se vê um bebé no útero já a mamar:


Entre os cinco sentidos, o bebé e as frequências sincrónicas surgiu a ideia de que a boca é um órgão importante nos primeiros tempos de vida até para conhecer o mundo, tacteando e saboreando o que agarra. Segundo alguns estudos, a boca é dos locais mais enervados e sensíveis do corpo humano e onde estão localizados dois sentidos (sabor e tacto) e integráveis com um terceiro (olfacto) pela sua proximidade.

Agora o caos era total, o meu road map nem para labirinto servia e não tinha lógica nenhuma.

Sem notar comecei a "sublinhar" as ideias 5 sentidos e boca e recordei um estudo que li há pouco tempo em que as primeiras experiências amorosas dos adolescentes às vezes duram horas e se limitam a beijar, acto que, quando adultos, muitas vezes desaparece dessas situações.

De repente, confirmando o conselho de Jacob Barnett, a criatividade nasceu e descobri que, na prática, um beijo amoroso é integração de estimulações externas e de estimulações internas, estas das sensações de 3 ou 4 sentidos (mais visão, se estiverem de olhos abertos) dos 5 sentidos existentes.
Ao mesmo tempo olhando para o símbolo Ying-Yang percebi que, na verdade, o beijo é igual à dinâmica Ying-Yang, pois há uma penetração-recepção permanente entre os participantes com suas estimulações externas e internas (sabor, tacto, olfacto).

Huau!!! Huau!!!
Parece que a chave que "liga" todo este conjunto está no experiencial, isto é, uma intensificação de estimulações externas e internas, estas quer com origem nos sentidos quer ainda de expectativas criadas por meditação, visualização, etc.

Acalmei e recordei que a estimulação externa do beijo é conhecida, mas pensei quão distraídos se anda por aí ao distribuir "beijinhos" como se fossem pipocas sem qualquer estimulação interna.
Se se pensar que no beijo ainda interferem trocas e perturbações eléctrico-magnéticas no córtex e químicas no organismo resultantes do contacto, as relações amorosas adolescentes centradas no beijo fazem todo o sentido, com sua activação de quatro sentidos.

Por outro lado, vulgarmente, na idade adulta por habituação, rotina, padrões, ...,  o beijo é tornado um fait divers social, um ritual sem importância nem significado e transformado em rotinas rápidas e dispensáveis. O amor adolescente com sua hiper-sensibilidade a estimulações externas e internas, bem diferente de excitações (na perspectiva tântrica), às vezes só reaparece na velhice... o que é pena e merece a pena questionar o que acontece na idade adulta.

Recordo-me ainda como é vulgar alguém (normalmente feminino) ao beijar carinhosamente um bebé, ouvir-se muitas vezes o seu comentário de "como cheira bem". Perfume ou não, isto só significa que o olfacto é usado e faz dele parte instintiva do beijar carinhoso.

O meu road map estava um caos mas ainda escrevi boring (aborrecidoe, nesse momento, percebi o que talvez Jacob Barnett tenha dito.

Conclusão

O aborrecido (boring) do aprender e da indecisão politica, pontos de arranque do presente post, aparecem pelo isolamento e separação entre a estimulação externa e a estimulação interna.

No caso de Jacob Barnett, a minha conclusão foi que o aprender na escola é uma situação de estimulações externas com a motivação (ou obrigação??) de mostrar aos outros que sabe e por isso sem estimulação interna é uma "chatice". Quando recebe aplausos por saber e passar nas provas (exame), se der motivação, mesmo assim não altera o facto de ter sido "chatice". 

Porém, aprender para ter o prazer de conhecer e descobrir mais do que gosta é  juntar estimulações externas e internas e criar alegria. Jacob demonstra-o bem no vídeo da sua conferência até porque, no seu final, ao propor que se esteja 24 horas a pensar num interesse pessoal pede para "don't learning about the field, be the field", ou seja, propõe que se una estimulações internas e externas.



Sobre os indecisos também parece que a sua indecisão na Democracia resultará de estimulações externas confusas, sem significado e/ou angustiantes que ficam sem estimulações internas a que se agreguem.
Como numa Democracia, os chamados "indecisos" sabem decidir pois sabem comprar automóveis, casas, alimentos, etc, o problema não é deles mas da informação fornecida e do método utilizado.

Quando as informações são confusas é saudável a indecisão surgir e, neste caso, ou se abstêm ou se entregam nas mãos de "Q'ridos lideres" ao estilo "Maria vai com as outras...".
Esta situação de informações confusas, a confusão do explicar talvez não seja defeito mas sim um acto intencional da estratégia para criação de dependência, usando o formato da publicidade negativa. Parafraseando Stephen Leacock, dir-se-á que é a publicidade "que bloqueia a inteligência humana o tempo suficiente para com isso ganhar dinheiro" mas, neste caso, ganhar votos e poder.

Jacob Barnett, com seus 12 anos, tem razão, pois entre o aprender formal feito só de estímulos externos e o pensar feito com estímulos internos e externos, parece não haver dúvida que a aventura de pensar é melhor e mais divertida do que a "chatice" de aprender... e aprende-se muito mais.


Road map utilizado


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