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sábado, 17 de outubro de 2015

Umas história de férias democráticas



Uma família numerosa planeia as férias desse ano, os debates começaram cedo e não conseguiram conclusões. 
Não se entendem, uns querem ir para a praia e outros para o campo. À noite, depois do jantar todos se juntam e tentam obter acordo uns dos outros, com argumentos diversos,  uns que "a praia não presta porque ... e porque..." e outros que "o campo não presta porque ... e porque...", continuamente todos se atacando e defendendo.

Por fim, para facilitar, a família partiu-se em duas, os pertencentes à família-praia e os pertencentes à  família-campo. Os mais pequenos choram e umas vezes querem praia e outras campo. O consenso tornou-se impossível e piora quando se apresenta propostas concretas.

Na prática, ser uma proposta concreta significa que se discutem detalhes. Qual é a praia, qual é o campo, é um hotel, um acampamento ou casa de família, o cão vai ou fica, etc. Simplesmente, em relação a cada detalhe, quer seja praia ou campo, dentro da "partição"respectiva (as partes partidas) também não há acordo, pelo que se fazem partidinhos dentro delas. 
É o que, tecnicamente na aldeia, se chama "família aos bocados".

A consequência interessante é que, por exemplo, sobre um local-praia, alguns da familia-praia não querem e os da família-campo também não. Assim, fazem-se acordos, votam e, por maioria familiar, o local é recusado. E o mesmo acontece com outros detalhes. As votações facilitam muito os processos decisórios.

Nem já parece uma democracia, é mais uma discutócracia híbrida de alta velocidade.
Os avós preocupados com as discussões, acordos e desacordos, ora sim's ora não's, propõem consensos para todos se entenderem. Como é do conhecimento geral, os consensos são uma boa mézinha.

Os avós maternos decidem começar. Com alguma experiência política, fizeram uma proposta que agradou. Tratava-se de não discutir detalhes e focarem-se apenas nas generalidades. Começaram a propor aprovações diversas, por exemplo, irem todos juntos, não convidarem amigos, regressarem ao mesmo tempo, listarem divertimentos desejados, partilharem recursos, etc. As conclusões generalistas foram muito boas, todos concordaram, fizeram consensos, ficaram satisfeitos e adormeceram felizes.

No dia seguinte, sairam da generalidades e começaram com os pormenores. A discutócracia regressou em pleno. Foi um desespero. Acusações de falta de maturidade, de não continuarem o acordo feito, de não terem hábitos de democracia, darem o "dito por não dito", não respeitarem os consensos, etc.

Os avós paternos resolveram passar à acção. Com experiência de gestão, argumentaram que sem detalhes não se faz consenso pelo que fizeram uma proposta cheia de detalhes que recebeu aprovação e muitas palmas.
A base era um acordo inicial como alicerce do projecto de férias. Este acordo era simples, claro e foi aceite: "NÃO SE PASSAM AS FÉRIAS EM CASA". Huau... havia consenso.

Assim, toda a família se uniu, ficou feliz e começõu a construir o projecto. Decidiram que as camas e sofás não se levavam, só emalavam roupa de férias, a casa ficava fechada, não se levava TV, nem computadores, etc.
Novamente, todos concordaram, o consenso era real, ficaram satisfeitos e adormeceram felizes.

No dia seguinte, ao tentarem passar do consensual projecto ANTI (não ficar em casa) para o projecto PRO (vamos para) o consenso esfarelou-se e regressou a discussão estilo "só falam todos ao mesmo tempo", com debates e discussões sobre o que fazer... e o consenso tornou-se envergonhado e afastou-se.

Os tios resolveram dar uma ajuda. Argumentaram que tinham que deixar de lutar uns com os outros e ficarem todos iguais. Portanto,... nem praia nem campo. 
A solução seria passar as férias na cidade, a ver museus, jardins, ruas e monumentos e estudar a cultura artistica. Tudo acalmou, o silêncio era grande, a discussão acabou. Aquilo era algo que ningém queria e nisso havia consensos.

Depois foi uma bagunça, parecia uma revolta carnavalesca. Os mais pequenos aproveitaram e começaram a dançar. Não havia controlo... foi tudo prá cama.

No dia seguinte, os bisavós, fartos daquela feira-popular, deram um grito, mandaram formar toda a família (o cão e gato incluídos), disseram que iam mandar vir um autocarro com TV, internet, WC, bar e aparelhos de ginástica, etc, e eles decidiam para onde se ia. A família calava-se e cumpria. 
Depois, quem se comportasse bem poderia ter um pouco do que desejava (praia ou campo). Se todos se portassem mal... passavam as férias a viajar nas auto-estradas.

Os mais velhos, por respeito ficaram calados, mas os mais novos começaram a protestar o que originou criticas e ataque dos bisavós aos pais que não os sabiam educar.

Os partidos família-praia e família-campo desfizeram-se e cada um foi para o seu lado.

Naturalmente, as gerações aproximaram-se e os mais novos juntaram-se e começaram a conversar nos seus sonhos, o que sonhavam com a praia e o que sonhavam com o campo. 
Os da praia começaram a sentir que o sonho do campo tinha coisas boas e os do campo gostaram de projectos agradáveis de praia.

Um deles, lamentando-se, disse que o que era bom era haver uma praia no campo. Outro respondeu falando em praia fluvial. Foram todos para a internet procurar e ver o que era e o que podiam fazer. 

Quer os do campo, quer os da praia encontraram muitas actividades que lhes agradava e algumas que não podiam fazer, por exemplo, surf para os da praia e escaladas para os do campo, mas não era impeditivo. O saldo era muito positivo.

Começaram a gritar "PRAIA FLUVIAL.... PRAIA FLUVIAL". 

Essas foram as férias desse ano.

Reconquinho - Portugal

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Obedecer ou não? Uma história para pensar

Com base em Jason Buckley 2015
www.thephilosophyman.com,
e recontando a história verídica.

Durante a 2ª Guerra Mundial, num determinado dia era imprescindível um avião da Royal Air Force levantar voo para uma missão urgente.

 Nas vistorias de partida, o Técnico Chefe detectou um problema no motor com alta probabilidade de ser perigoso. Comunicado o diagnóstico ao Engenheiro Chefe, este considerou o avião sem condições de voar e recusou-se a assinar a autorização de voo.

O Comandante da unidade (piloto e não engenheiro) considerando a importância da missão, anulou essa decisão, considerando o avião pronto para voar, e deu ordem para levantar voo.
Simultaneamente, por motivo técnico da missão, deu ordem para o Técnico Chefe também embarcar.

Técnico Chefe desobedeceu, recusando-se a embarcar dadas as condições perigosas do motor do avião. O avião partiu.

Tempo depois, a avaria apareceu e o avião foi obrigado a voltar para trás, conseguindo aterrar sem ninguém ficar ferido.


Militarmente qual pensam que foi o resultado?

A - O piloto Comandante da Unidade foi castigado e/ou demitido e o Técnico Chefe louvado e/ou promovido.

B - O piloto Comandante da Unidade manteve-se intocável e o Técnico Chefe foi julgado em tribunal militar e demitido da RAF.



O que aconteceu foi a alternativa B.

O que pensam da história???

Seja qual for a vossa opinião vamos complicar. Qual seria o resultado em condições diferentes, se...


1 - O avião tinha um desastre, morriam todos e a missão não se fazia !!!!

2 - O avião cumpria a missão e no regresso tinha o desastre e morriam todos !!!

3 - O avião cumpria a missão, e regressava sem desatre !!!!

4 - O avião não partia, era reparado e depois cumpria a missão !!!!

5 - O avião não partia, era reparado e depois já não era possível cumprir a missão !!!!

Será que estes novos acontecimentos alteravam a decisão de ser A ou B... ou criavam outras C, D, E, etc ????



Para complicar um pouco mais, pode-se considerar dois problemas diferentes:

A - A partida, ou não, do avião para a missão, da responsabilidade do piloto Comandante da Unidade.

B - O embarque, ou não, do Técnico Chefe, da responsabilidade deste em obedecer, ou não, à ordem.

Se fossem juízes do Tribunal militar o que decidiriam ?????