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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O seu filho é, ou não, empreendedor ????

Se o seu filho não é empreendedor,
a pergunta a que deve procurar responder é:

Porque é que agora não é ... se, quando criança, vivia a empreender projectos???


Uma sociedade que tem muitos disfuncionamentos iguais, por ex, alta mortalidade infantil, muita violência doméstica, muitas fraudes, muita agressividade, etc, a principal questão a resolver não é essa disfunção (sintoma), apesar da acção necessária, mas sim anular a causa dessa "anormalidade" social.
Na verdade, o problema não deve ter a sua origem nos indivíduos, mas em algo que é comum a todos, ou seja, num factor da própria sociedade. 

No caso do não-empreendedorismo, esta "mutação evolutiva e regressiva",


pode ser aferida pela quantidade de cursos oferecidos no mercado para o seu "tratamento".

Em Portugal, pesquisando o mass-média encontram-se muitos anúncios com "tratamento" específico para a falta de empreendorismo, quer com ofertas privadas quer estatais:

em 28 Abril 2015
ou seja, existem centenas de cursos, governamentais e privados, pagos e grátis. Grátis significa que há ofertas de dinheiro para funcionar sem custos para os "clientes", portanto, parece existir uma preocupação curativa genuína com a "doença" do não-empreendorismo.

Em conclusão, o não-empreendorismo criou um novo mercado, rico e profícuo, com várias centenas de empreendedores-activos-a-vender e milhares de empreendedores-activos-a-comprar um... produto para se aprender a ser empreendedor (?!?!?). Uhau!!! ... um paradoxo interessante. 
Como exemplo:


A situação é estranha, pelo que várias alternativas lógicas se podem colocar pois, parece que apesar das muitas "soluções curativas, a "doença" continua "florescente" e com um mercado curativo em expansão.

Nesta dinâmica mercantil de activos e não-activos em agir, são muitos os empreendedores que sobressaem, desde os "legais institucionados" até aos "clandestinos out-of-bounds",


tais como, empreendedores de economia paralela, fugas fiscais, fraudes financeiras, fraudes académicas, "chicos espertos", burocracia dinamizada com "cunhas-atalhos", negócios discretos "por baixo da mesa", experts credenciados de "bugs na legislação", pagamentos enriquecidos "por fora" (por alcunha: subornos), contas "offshore" (ou seja, em férias no estrangeiro), etc.

Assim, lendo as notícias diárias do mass-media, encontram-se sempre relatados alguns destes casos. Parece que, com ou sem cursos adequados, o empreendorismo em Portugal é florescente.

Será que há por aqui uma história mal contada????

O empreendorismo é uma integração de 3 factores:
Bill Gates foi o empreendedor que, numa garagem, criou a Microsoft. Porém não tinha na garagem os recursos necessários para o fazer pelo que teve que sair da garagem para os obter. Por outro lado, se estivesse na Nova Guiné numa tribo pré-histórica, também não teria as redes sociais necessárias para poder empreender a Microsoft.

Leonard da Vinci tinha a vontade, energia, decisão e ideia (planos) para construir um paraquedas, todavia não o conseguiu empreender. Na época faltaram as condições e os recursos para o fazer, porém 500 anos depois foi possível:


Será que, em Portugal, o empreendorismo "perdido" não é um problema de empreendedor (decisão, energia e/ou ideias) mas de condições ("mar social") e recursos adequados de realização? 

Uma outra história:


Um economista de Bangladesh, Muhammad Yunus, Prof. na Universidade de Chittagong, resolveu combater a pobreza criando "empreendedores". 
Não dava cursos gratuitos para ensinar a ser empreendedor, apenas fornecia microcréditos aos que não tinham nenhuma garantia para poder pagar os empréstimos recebidos e estabelecia redes sociais ancoradas no compromisso e responsabilidade. 

O empreendorismo nasceu e instalou-se. Em 2005, com a ajuda do Banco Mundial, já tinham sido concedidos bilhões de dólares a 100 milhões de famílias que empreenderam a luta contra a austeridade da sobrevivência em que viviam. 

Tudo começou em 1976, na aldeia de Jobra, com 42 pessoas e um punhado de dólares. Não se cobravam juros e eles poderiam pagar quando pudessem. Segundo Yunus, por mais difícil que fosse a situação dos financiados, os empréstimos foram sempre pagos, ainda que levasse algum tempo.

A rede era dinamizada pela confiança, pelo compromisso e pela energia de empreender a transformação de sua vida, exactamente como acontece com os emigrantes, empreendedores anónimos que empreendem o futuro no desconhecido:

Emigração para USA (sec XIX)
Segundo o Expresso de 08.07.2015: "Com mais de cinco milhões de pessoas de origem portuguesa espalhadas pelo mundo, Portugal apresenta atualmente a taxa de população emigrada mais elevada da União Europeia".


Conclusão

Andar é empreender um destino!

Empreender faz parte da programação da vida, não são precisos cursos, pode ser melhorado ou definhado, mas só se perde com a morte. Com um susto empreendemos a fuga, com uma alegria empreendemos aproximação... está nos genes.

Os três factores atrás citados (indivíduo, recursos, contexto) são fundamentais, mas o indivíduo tem à partida o seu como fazer (conhecimento) instalado, quer instintivo, intuitivo ou aprendido (informal ou formal). Pode ser melhorado mas existe um mínimo natural que se aperfeiçoará se pressionado pelos outros dois que, na prática, são a chave da porta do empreendorismo. Na verdade. não há cursos universitários para usar o telemóvel, contudo


empreende-se o seu uso e consegue-se utilizar. Não há cursos universitários para a economia paralela, ela existe. Há formação e cursos contra a fraude, ela existe e subsiste. Os emigrantes empreendem o caminho apoiados nas redes sociais (informação e aprendizagem) e recursos mínimos.

O microcrédito atrás citado é um exemplo interessante. O detonador (trigger) do empreendorismo foram os recursos e as redes sociais. O eventual conhecimento necessário foi "exigido" pelo empreendorismo detonado que provocou a aprendizagem "by the way" ao estilo do uso dos telemóveis com o seu método "procura-aprende".

Parece que a "doença" do não-empreendorismo "tratada" com cursos, mas esquecendo os recursos e o contexto, é uma boa solução sob ponto de vista de negócio.
Parece seguir a velha estratégia de "a operação foi um êxito, mas o doente morreu":


Sem cursos e com almofadas, o empreendedor empreende uma nova organização de descer da cama:


com cursos e sem almofadas, o mesmo empreendedor não empreende uma "nova organização"... fica à espera  até às "calendas gregas".