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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Conversa, um diálogo ou dois monólogos?


O Manuel diz: Amarelo.
A Maria responde: Verde.

O diálogo continua, cada um procurando que as mútuas respostas se "encaixem". As argumentações baseiam-se nas respostas do outro quando, na verdade, o problema está noutro lado. 

A resposta da Maria, quando diz Verde, não responde ao Amarelo do Manuel, mas à transformação sofrida no seu córtex com a mensagem recebida, numa espécie de monólogo interno entre os seus neurónios, detonado pelo estímulo sofrido. 

Dizer que a mensagem é parte da causa originadora da resposta é uma possibilidade, mas ela também pode ter sido apenas um catalisador da transformação do córtex que é, sim, a origem da resposta. 
Por outras palavras, a resposta nasce da "mastigação" que o córtex faz do estímulo recebido, quer este seja, ou não, também integrado. Neste último caso, a mensagem é apenas um factor "alien" (alienígena), ou seja, do tipo "agregação por acaso, tempo por acaso e fica conectada também por acaso".

Na verdade, o factor crucial causador da resposta é a "mastigação do córtex" sobre o estímulo recebido, cientificamente chamada criação de significado, mediante o monólogo interno de processamento de informação.

Por exemplo, num córtex viciado em ciúme, qualquer mensagem recebida é "digerida" pelo ciúme  e provocará uma resposta ciumenta, quer a mensagem seja "Gosto muito de ti" ou "Hojeestá um lindo dia de sol".
Quer isto dizer que qualquer argumentação para alterar a resposta ciumenta não deve ser em torno das  mensagens "gosto de ti" ou "dia bonito" ou uma qualquer resposta havida, pois será sempre inútil.
A solução é centrar-se no possível monólogo interno do ciumento e tentar alterá-lo. As técnicas do "go in"(detectar os referenciais de avaliação, alterá-los e aplicar) normalmente são eficazes.
Um exemplo da sua aplicação numa campanha eleitoral ("Our brand is crisis"):


Numa eleição, argumentar é gerir os monólogos internos dos eleitores.

Na verdade, numa conversa o causador da resposta nunca é a mensagem recebida, mas sim a "convulsão" provocada no córtex ao ser processada com a informação existente (cognitiva/afectiva). A pobre mensagem pode ser apenas um factor "alien", totalmente "inocente" como no exemplo do ciúme.

Como conclusão, numa conversa, discussão, conflito, etc, o importante não é o "carrossel" de frases ditas, mas sim o carrossel de "convulsões de significados" que ficam a estrebuchar no córtex e que... às vezes podem originar AVC's. 
As palavras não matam, o que mata são significados em convulsão relampejando no córtex.


Um pequeno video:

Resumo:
O Manuel diz amarelo e a Maria entende vermelho e a isso responde verde. Por sua vez o Manuel vai entender o verde como roxo e é a isto que vai responder.
Aparentemente, todo o diálogo se faz entre amarelos e verdes mas, na verdade, a conversa saltita entre dois monólogos isolados, o vermelho na Maria e o roxo no Manuel... possivelmente sem nunca saberem que existem e que estão a "falar" um com o outro.

As conversas não são diálogos de surdos, são de diálogos de "undercovers" na clandestinidade.


Parafraseando S. Freud:
Quanto mais o Manuel me fala da Maria,
 mais eu fico a conhecer o Manuel,
ou seja, o que o Manuel diz da Maria é expressão directa do seu monólogo consigo próprio. A Maria é o factor "alien" que veicula e expressa esse monólogo para o exterior.