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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

As crianças, a vida e os antipsicóticos- Parte 2


Percurso do pensar
1 - Carroças, carros e aviões
2 - Equilíbrio estímulo-córtex
3 - Estratégia "estímulos versus córtex"- Parte 2
4 - Estratégia "córtex versus estímulos"
5 - Córtex versus vida

Continuação de "As crianças, a vida e os antipsicóticos- parte1"
TEMA/RESUMO:

Com psicotrópicos as crianças são condicionadas (educadas) para conduzir "carroças" (baixa estimulação/actividade) para depois poderem pilotar "aviões" (alta estimulação/actividade), mas o resultado é ficarem [...seres estranhos num mundo que acham estranho].

3 - Estratégia "estímulos versus cérebro"


Esta  estratégia acontece quando se altera a velocidade de apresentação dos estímulos mas se mantém normal a velocidade de percepção do córtex.
Ela pode ser exemplificada com a procura de compreensão de uma paisagem "olhada" pela janela de um comboio a alta velocidade.

Na verdade, quando se olha de frente pelo vidro, a paisagem parece estar "esborratada" a "correr" rapidamente para trás. Os olhos incomodam, há tonturas, dores de cabeça e sonolência, pelo que o resultado é desistir ou adormecer.


O que está acontecendo é que a sucessão dos estímulos "olhados" é muito mais rápida que o tempo necessário para o córtex "digerir" os pormenores e definir uma imagem.

A solução é simples e vulgar, basta olhar para a frente ou para trás do movimento do comboio.


Deste modo, a paisagem parece parada e os estímulos visuais podem ser percepcionados e processados pelo córtex, construindo detalhes, e surge a "fotografia mental" da paisagem.

Em conclusão, 
o córtex, perante a "anormalidade" da estimulação, "decide" uma estratégia de adaptação que lhe permite funcionar. É uma solução semelhante à utilizada automaticamente quando há muita luz, impedindo a percepção dos pormenores.
Neste caso, a adaptação é semicerrar os olhos, o que acontece se o córtex não estiver dopado ou com padrão de baixo potencial de estimulação(*), parecendo hipnotizado pela luz(**).

(*)- Por ex., flacidez e lentidão nas respostas musculares e neuro-musculares.
(**) - Técnica também usada (farolinar) na caça a alguns animais selvagens para "travar" a fuga.

É interessante pensar sobre os "óculos sem vidro dos esquimós".


Na prática são um instrumento de sobrevivência (com milhares de anos) para facilitar o trabalho mental.
Na verdade, a brancura da neve e sua luminosidade "atacam" os mecanismos de percepção e dificultam o funcionamento do córtex no compreender e fazer a "foto mental" do contexto e poder tomar decisões correctas(*).

(*) - Sob o ponto de vista de decoração, secretárias com tampo branco podem ser bonitas e agradáveis. Todavia, experimente-se passar algum tempo lendo texto em papel branco colocado sobre o tampo e sentirão dificuldades de leitura, concentração e compreensão e talvez dores de cabeça e olhos, principalmente se forem crianças. 
Encontrei algumas escolas e empresas com esta decoração.  
O IKEA tem à venda este modelo, porém os óculos de esquimó têm que ser comprados noutro lado.


Filmes

Filmes são uma aplicação interessante da adaptação do córtex a velocidades "anormais" dos estímulos.

Repare-se como alguém muito dopado (embriagado, barbituricado, drogado, etc) não tem motivação para olhar filmes pois a sua compreensão do conteúdo  tem "buracos" e confusões.
No mínimo fica "hipnotizado" pela passagem dos "bonecos" e pouco percebe do que acontece na história. O normal é só querer filmes de "fast OK" ("ver e OK"), como são alguns, não todos, os "filmes de acção" ou "dramas de telenovela" que não é preciso processar.

Filmes são uma sucessão de imagens paradas apresentadas com uma velocidade de 24 por segundo, velocidade essa superior à estimulação normal o que obriga o córtex a um esforço de  compreensão. Na verdade, esta velocidade não permite fixar e compreender detalhes de cada imagem de per si, impedindo o córtex de reconstruir a imagem mental de cada uma.

Para evitar esta condição de "janela do comboio" (já descrita) as imagens apresentadas (frames) utilizam duas técnicas para obrigar o córtex a funcionar de maneira diferente, isto é, não "pensar" em cada uma de per si, mas no seu conjunto.

Deste modo, a "olhadela" da sucessão imagens (filme) permite "visualizar" o movimento, pois o córtex adapta-se e apenas vai dar importância à diferença existente em cada frame e não ao que neles é igual.

EXEMPLIFICANDO

1ª técnica: criar diferenças nas imagens (frames)

O que é que este jovem está a comunicar?


Não é fácil encontrar a resposta porque pesquisar diferenças entre os 6 frames leva tempo e esforço de análise e memória. É cansativo e aborrecido.
Assim, o córtex precisa de uma "ajuda", isto é, precisa alterar o funcionamento"normal" e adaptar-se a um modo de processar estímulos que esclareça o significado.

Por ironia, a solução não é dar mais tempo para "pensar" pois dar uma hora para ver as fotos não ajudará muito. Pelo contrário, se se der menos tempo, apenas um segundo, o córtex perceberá imediatamente.

Porém, esta técnica que é necessária não é suficiente, precisa ser completada por outra e foram as duas que deram origem ao cinema.

2ª técnica: gerir a velocidade e a sucessão das imagens (frames)

No inicio do cinema, foram feitos estudos da "Persistência da imagem na retina" para determinar qual a velocidade ideal para o córtex ter percepção e sensação de movimento. A medida adoptada foi fps (frames por segundo).

Na época, o padrão fixado como desejável foi 24 fps que ainda hoje é usado. Todavia, existem outras hipóteses, hoje consideradas melhores, que criam transições mais suaves. Um exemplo doutros rácios aplicáveis são os 60 e 48 fps como no filme "O hobbit" (2012).

Assim, apresentando as imagens anteriores sob a forma de filme (24 fps) o córtex adapta-se e a compreensão é rápida e eficaz,
 [clickar]


de que o jovem está a "dizer" NÃO.

Se se analisar a sequência das imagens, verifica-se que todos os frames são iguais excepto a mão/dedo, cujas variações são a mudança de posição para a esquerda e direita expressando o significado. 

Conclusão,
devido à imensa variabilidade do meio ambiente, o ser vivo tem necessidade de um orgão com grande adaptabilidade perceptiva que possibilite reações correctas e adaptadas, garantindo a sobrevivência.

O ser humano não é excepção, antes pelo contrário, a sua flexibilidade nervosa-mental é grande e evoluiu muito, desde gerir o fogo na pré-História até conduzir aviões. Inventar e compreender filmes faz parte desse "deslizar" para o futuro.

Assim, debilitar ou entorpecer o córtex é um crime de lesa-humanos pois é fazer um "deslizar" para o passado. Não é evolução para um ser humano melhorado, é involução  para um ser humano estragado com potencialidades perdidas e bloqueado.
PS - Possivelmente hoje, Charles Darwin escreveria também "As regressões da espécie humana".

No nosso século a evolução é óbvia. Dentro da mesma geração, assistimos ao indivíduo recriar-se a si próprio. Profissionalmente, assisti a várias pessoas reformadas entusiasmadas a aprender a usar o computador. Tinham que adquirir destrezas novas como, por ex., controlar o rato sem olhar para ele mas sim para o écran.
Isto significava adquirir sensibilidade motriz controlada por olhar para outro lado, o que no inicio não era fácil pois no écran o rato dava grandes saltos fora do local desejado. O desespero aparecia e  a não-desistência também.

Eu sou do tempo do ZX Spectrum (anos 80), o computadorzinho que timidamente aparecia na sociedade e era apoiado com pequenos cursos para se aprender a utilizar.

Recordo que dei um ZX Spectrum a meus filhos (10/11 anos) que agarraram nele e desapareceram, recusando ensinos. Mais tarde vi-os utilizá-lo divertidíssimos… tinham aprendido com os amigos como na altura se fazia.
Ironicamente, no plano profissional, vi adultos recusá-los ou fazer cursos para os usar. Pouco tempo depois eram "fans" e o computador era um instrumento comum.

Hoje os telemóveis são "pequenos computadores" e não há cursos à venda para a sua utilização, mas vêem-se crianças de 3/4 anos a utilizar tablets e a manipular telemóveis. Muitos hackers (especialistas clandestinos de computação), entre os 11/15 anos, adquiriram competência por auto-formação e por formação informal(*).

(*) - Não há políticos a quererem ser eleitos por prometerem cursos de telemóveis aos eleitores (seria ridículo) mas há professores a proibi-los nas aulas. Todavia, certas escolas e universidades usam-nos para trabalhos grupais e/ou fotografar esquemas e apontamentos no quadro e/ou livros, por "alcunha" chamam-lhe "técnicas de espião"(spy tools).

Conclusão,
o ser humano evolui, o córtex adapta-se e desenvolve-se, entorpecer o sistema nervoso e mental dos nossos filhos é algo que nenhuns pais podem querer ou consentir, não tem sentido estragar as crianças para o bem delas.

A solução não é entorpecer as crianças mas sim activá-las e se são hiperactivos(*) a solução é aumentar as actividades e não reduzi-las e aumentar controlos. As crianças não são robôs que se "desactivem", há sempre efeitos colaterais às vezes inesperados, desconhecidos e sem retorno(**).

(*)- Casos de hiperactivos medicamente reais são diminutos em relação à moda existente (vide os muitos artigos técnicos).
(**)- Por exemplo, os psicotrópicos podem criar aditismo.

Se as pessoas vão para ginásios "espevitar" os músculos e serem iguais ao Tarzan, porque não vão  "espevitar" neurónios para serem iguais ao Einstein?
Afinal isso é possível e não há limites de idade:


pois quando se "espevita" o córtex ele responde sempre.

Três EXEMPLOS para poder "espevitar" neurónios:

A - "Folhear" filmes

Normalmente, há o hábito de folhear livros para decidir se se quer ler ou abandonar. Porque não "folhear" filmes para ver ou abandonar?

Um filme é uma sucessão de imagens captadas da vida real por uma máquina de filmar que fixa (foto+grafa) 24 fotos por segundo. Se depois "olhadas" a 24 fps isso permite ao córtex reconstruir na mente as cenas reais que as originaram.

Porém, se a máquina fotografar, por ex., a 240 fps (ou 500 fps, etc.) existem mais fotos intermédias captadas pelo que, quando "olhadas" mais lentamente a 24 fps, o córtex detecta mais pormenores intermédios construindo na mente um movimento lento.

A sensação de "câmara lenta" (slowmotion), na verdade, tem que ser feita com uma câmara rápida. Pelo contrário, um filme acelerado é feito com uma câmara lenta (18 ou 20 fps) que tira menos fotos por segundo, como acontecia nos primeiros filmes. Depois, quando "olhados"a 24 fps o córtex, ao detectar menos pormenores intermédios, constrói a solução de um movimento mais rápido.
Charlie Chaplin, propositadamente, às vezes filmava com 20 fps, apesar das filmagens já serem a 24 fps, para aumentar a comicidade o que na altura se chamava "defeito especial".

Conclusão
a capacidade de adaptação do córtex, realmente, é uma "prenda" espantosa que a vida oferece e merece não ser destruída ou definhada.
Exemplo:

Filme normal



Filme acelerado




Filme lento (slowmotion)



PS- Os dois últimos filmes por "olhados" a 24 fps, um fica acelerado e o outro fica lento, mas são "batota".  A filmagem inicial a 24 fps foi manipulada em computador e num caso apagaram-se frames (filme acelerado) e noutro acrescentaram-se frames (filme lento). Simplesmente os "novos" frames acrescentados são cópia de existentes portanto não acrescentam mais diferenciação, o que não acontece com filmagens em câmara rápida. O olho não vê a "batota" mas o computador "vê".

Conclusão

Estas três condições fílmicas, normal, rápido e lento, permitem criar condições de estimulação para o córtex e ele poder "folhear" filmes. Assim,

Método
Na primeira etapa, vê-se o filme acelerado o que pode ser feito na BoxTV (gravações ou fora do horário).  Assim,  capta-se a estrutura e seus blocos de pormenores. Portanto, decide-se "ficar por ali" ou guardar para a segunda etapa, como com livros.

Na segunda etapa, oscila-se entre a velocidade normal e acelerada em função de opções pessoais de compreensão. Se se pretender ver alguns detalhes em pormenor, é necessário o computador para criar slowmotion de "batota".
Como ex., uma cena deliciosa de Sean Penn em "21 Grams" (2003) a que chamei "olhos que falam":


Conclusão, 
esta estratégia permite, manipulando o formato e a sucessão de estímulos, activar no córtex padrões de funcionamento diferentes e que estão potencialmente em standby. O ser humano é um ser em desenvolvimento até idade avançada, geneticamente nunca é velho, ou seja, nunca está fora de uso.

Quando se nasce, a primeira actividade é aprender pois é preciso aprender a respirar cá fora, senão morre-se. Depois, o aprender continua até morrer. Entorpecer o córtex é debilitar a actividade de aprender(*).

(*) - Assim, dar psicotrópicos a um hiperactivo(?) para ficar sossegado e, na escola, poder aprender é um contra-senso, é o mesmo que amarrar a criança a uma cadeira para poder aprender a correr.

2º - "Aglomerar" estímulos

Uma pergunta, um baterista com 20 instrumentos é mais desconcentrado de que um flautista que só tem um?



Claro que o simples senso comum responde que isso não é verdade porém, quando aplicado às crianças, o mesmo senso comum actua como se fosse verdade.
Assim, pode-se perguntar, "se se aumentar a quantidade dos estímulos, o córtex funcionará bem ou funcionará mal?"
Aplicando e refrazeando a questão:

  "Porque não se vê dois filmes ao mesmo tempo?"

Decidi experimentar e deixar que o meu córtex "resolvesse" o problema.
Os filmes foram "Avatar" e "Anjos e Demónios":


Olhando para um ponto intermédio, utilizando a visão periférica, funcionou bem e, às vezes até com velocidades diferentes e... no fim eu sabia as duas histórias. 

Na verdade, o meu córtex nunca "resolveu" pôr um avatar no meio de Roma, nem pôr um cardeal em cima de uma árvore na floresta, ou seja, não foi preciso preocupar-me em estruturar significados. O córtex não "baralhou" lógicas, "arrumou" bem as informações e tudo era coerente.

Poder-se-á argumentar que se perde o prazer da arte do cinema, talvez, mas no ginásio manipulam-se pesos para treinar músculos e ninguém argumenta que não é assim que se transportam malas ou se leva os filhos ao colo. Não se pode confundir actividades, ver cinema é ver cinema, treinar neurónios é treinar neurónios.

Resolvi aumentar o "caos" e, agora, tento também ler um livro aproveitando os segundos com frames mais ou menos iguais, por ex., quando o avião levanta voo tenho alguns segundos para ler até ele chegar lá em cima e, depois, regressar ao filme. Aliás, o aviador em crise faz esta multi "actividade-atenção-selecção". Não sou aviador mas também posso fazer.

Sobre os livros, já conclui que ler texto é mais difícil que ler banda desenhada. Tenho ideia que talvez seja porque o texto exige raciocínio sequencial (estilo hemisfério esquerdo) e a banda desenhada exige  raciocínio espacial (estilo hemisfério direito). Assim, ando a procurar ultrapassar a diferença com a técnica de leitura "PhotoReading".

Para terminar, dois exemplos de aprofundar filmes com sua aceleração e com o desenho do "mapa de ideias" correspondente. O filme projecta-se em velocidade acelerada e faz-se pausas para desenhar a rede de relações. A rede desenhada é, posteriormente,  redesenhada e completada num software de mapear. Como exemplo, dois filmes:

1º - "Jogos perigosos"(Misconduct) (2016) com Anthony Hopkins e Al Pacino.
A rede de relações principais:


2º - "13 dias que abalaram o mundo" (Thirteen days) (2000) sobre a crise dos mísseis USA-Cuba:


3º - "Libertar" o córtex

Como exemplo prático, um teste:

Num minuto, encontrar 2 letras
Uma solução é percorrer todas as colunas (ou linhas) até encontrar as letras. 

Outra solução, muito mais rápida, é focar um ponto fora da imagem e deixar que o córtex "em autogestão" as encontre.  Em alguns segundos, elas saltam para o 1º plano da atenção.

Na verdade, o olho tem 2 tipos de receptores (rods e clones) possibilitando uma visão central e uma visão periférica e cria um espaço de profundidade de campo com planos focados e planos "paisagem" por detrás:



Há várias soluções, mas uma relativamente simples é focar um ponto no espaço entre o olho e a imagem  e esperar alguns segundos… e as diferenças "saltam" rapidamente para a consciência da percepção:




A visão periférica "abre" possibilidades de funcionamento do córtex, desde a "divagação cognitiva", como método de análise e estudo, até à dominância do raciocínio espacial (hemisfério direito), passando pela visualização(*).

Uma aplicação interessante está na construção mental a 3 Dimensões que o córtex, saudável e não entorpecido, pode fazer se estimulado por certas imagens gráficas a 2 Dimensões, por ex.:


que é percepcionada num espaço 3D como dois cangurus a jogar boxe, com forma colorida e numa espécie de holograma: 

PS - Há alguns anos atrás, no Casino Estoril,  foi feita uma exposição destas imagens a 2D para serem percepcionadas a 3D.

(*) Visualização não é construir na mente uma fotografia-imagem mental a partir de um relato, construção essa que, numa tradução livre, se poderia chamar "olharização", ou seja, uma espécie de olhar mental. 
Esta técnica (olharização), diferente de visualização, é muitas vezes usada em observação, testemunhos policiais ou outros e memorizações, onde tem grandes vantagens. 

Todavia, quando usada em relaxação, meditação, yoga, rezar, etc. o seu efeito é nulo, talvez apenas uma agradável sonolência. Porém, nestes casos, não se pretende uma actividade cognitiva de construção de imagens mentais (olharização) mas sim modificar o "estado" do sistema nervoso-mental.
Em síntese, a visualização não é um processo cognitivo de fotografia mental (ondas Beta), mas criar um diferente funcionamento do córtex (ondas Alfa ou Teta). As metodologias não são as mesmas. Meditação ou relaxação yoga não são técnicas de imaginização usadas no "olhar mental" (olharização). 

PS - Relaxação com Imaginização dá sonolência e é uma boa solução para a insónia (i.é., querer dormir e isso não acontecer) portanto não é esse o objectivo da meditação ou da yoga.

Como dizem alguns técnicos […na vida normal o corpo está activo e a mente rotinada, na meditação  ou na yoga o corpo está rotinado (parado na posição) e a mente activa]... ou seja, com psicotrópicos só se pode fazer "olharização" (quando ainda se pode) e nunca visualização.

Conclusão final

O córtex está preparado para se desenvolver e se adaptar à multiplicidade e diversidade de estímulos que a vida oferece.

Em síntese, viver são contínuos ciclos no córtex de input/output, ou seja:

              - recepção de estímulos do exterior;
              - agir no exterior partir deles.

No início da vida, estes ciclos contínuos são treinados e desenvolvidos pelas crianças com uma actividade constante chamada brincar.
De um modo simples, as crianças são estimuladas e, em consequência, fazem actividades, como resultado o córtex colapsa em novos funcionamentos, por ex., motricidade fina, coordenação óculo-manual, escolha de opções, comparação de alternativas, etc etc etc.

Nesta perspectiva os psicotrópicos fazem um duplo assassinato psicológico, por um lado debilitam a recepção de estímulos e por outro debilitam a actividade de resposta. Militarmente, é a chamada estratégia de "fazer a guerra em duas frentes" apenas com uma única acção: uma simples pastilhita.

Numa imagem, os seres humanos saíram da pré-História por aperfeiçoar e desenvolver estas duas capacidades e, agora, que elas são prementes, adaptadas e utilizáveis, essas capacidades são debilitadas e as nossas crianças devolvidas, por acção química, às capacidades da "pré-História".

Entorpecer o córtex das crianças com psicotrópicos é o mesmo que, para estarem sossegadas, serem obrigadas a passar os dias amarradas a uma cadeira e nunca poderem viver o correr ou o dançar

Dizer que elas são robôs é uma falsa imagem, na verdade os robôs são máquinas equilibradas e aperfeiçoadas, mas as crianças com psicotrópicos são apenas seres desequilibrados e "mutilados".



quinta-feira, 20 de outubro de 2016

As crianças, a vida e os antipsicóticos- parte 1


O problema é que, além de ficarem como robôs, ficam como robôs lentinhos!

Tema
Relembrando as avós que, sorrindo felizes, diziam:
- É muito, muito traquinas!!!!, e concluíam:
- Quer viver... e tem saúde!
Hoje, se têm saúde, querem viver e são irrequietos estão doentes!

Percurso do pensar
1 - Carroças, carros e aviões
2 - Equilíbrio estímulo-córtex
3 - Estratégia "estímulos versus córtex"
4 - Estratégia "córtex versus estímulos"
5 - Córtex versus vida

1 - Carroças, carros e aviões

Como ponto de partida... uma pergunta:

Para os humanos, qual é a diferença importante entre carroça, carro e avião?

Não é só terem velocidades diferentes, é que qualquer deles obriga os seus utilizadores a terem um "cérebro diferente", isto é, desde simples e lentinho nas carroças até complexo e rápido nos aviões, passando por complicado e médio nos automóveis. Repare-se como são diferentes os testes de selecção e a formação necessária para cada um.


Quer isto dizer que um condutor de carroça tem muitos minutos para PERCEBER algo inesperado e tomar a decisão necessária e age com poucas acções mais ou menos rotinadas.

Por outro lado, um condutor de automóvel tem segundos para actuar usando várias partes do corpo (mãos, pés, cabeça, olhos, ouvidos) em locais e instrumentos distintos (travão, acelerador, embraiagem, volante, buzina, etc) e decidindo acções adaptadas à situação interior e exterior do carro.

Em contrapartida, o piloto de avião tem décimos de segundo para diagnóstico com vários instrumentos, manipular diversos comandos, comunicar com diferentes ouvintes e/ou até ler manuais e ouvir instruções e, por fim, decidir e fazer. 

Os três condutores precisam de ter um sistema nervoso e um córtex com características diferentes. O rotinado condutor de carroças vai ter dificuldade em fazer multi-actividades que exigem multi-percepções e multi-compreensões e, ainda, integrar tudo numa decisão-acção em décimos de segundo.

Estas diferentes características não são uma questão de inteligência mas sim de padrões instalados para funcionamento do sistema nervoso/córtex. Por exemplo, aprender a conduzir um automóvel obriga a adquirir micro-comportamentos, intensificar a captação de estímulos (no falar comumestar atento) e ter rapidez na sua compreensão (no falar comumnão se distrair).

Apesar de, no falar comum, se considerar tudo isto uma questão de vontade, na verdade é uma questão mais profunda. É um renascer do indivíduo com capacitações que não tinha antes, com padrões e redes neurais mais complexas que foi testando e criando durante as tentativas. Quando instaladas diz-se, no falar comum, "já aprendeu".

PS- Para a neurociência, aprender é criar novas conexões neurais (portanto, não existentes antes), criação essa que só o próprio pode fazerAssim, o professor NUNCA é o formador, mas só um proponente de auto-formação, ou seja, de cada um criar as suas novas conexões neurais. 
Existir respeito e companheirismo de quem ensina perante quem está num "esforço" de auto-transformação é fundamental. O seu papel é de apoio, não é de dono, nem de juiz do processo de aprender que não lhe pertence

2 - Velocidades estímulos-córtex

A diferença das exigências nervosas e mentais na condução da carroça e do carro são óbvias e fáceis de confirmar com a resposta a uma simples pergunta, "o que acontecerá se ambos os condutores adormecerem?"

A carroça continuará na sua rotina mas o carro terá, instantaneamente, problemas pois falta-lhe a actividade essencial de um sistema nervoso-mental activo. Os protagonistas destes duas condições adquirem adaptações diferentes.

Num exemplo mais observável, considere-se duas crianças, uma que cresce movendo-se livre no espaço que a rodeia e outra que está sempre amarrada a uma cadeira. Passados alguns anos, a nível dos sistema muscular e neuromuscular, haverá diferenças reconhecíveis entre eles, pois os corpos de ambas são e actuam diferentes.
Uma adquiriu uma sossegada imobilidade da qual é impotente para abandonar e a outra expressa uma enérgica actividade que tem alegria em usar.

Este efeito visível tem cúmplices invisíveis, por exemplo uma está habituada a tomar decisões ("Para onde vou? Que faço? Que aconteceu?"), a outra está habituada a estar "desligada". Uma é humana, a outra é sub-humana, chamar-lhe robô é camuflar o problema, pois não é uma criança diferente, robotizada, é uma criança destruída.

Que futuro queremos para os nossos filhos???

Regressando ao exemplo da carroça/carro, na carroça, o exterior move-se lentamente em relação ao condutor pelo que ele tem muito tempo para receber os estímulos e construir decisões. Todavia, no carro, o exterior muda velozmente pelo que qualquer decisão é muito mais exigente no plano sensório-nervoso-mental.

Em conclusão, isto quer dizer que há sempre uma relação entre a velocidade de apresentação do estímulo e a velocidade do córtex em captar/compreender o seu significado:


Esta fórmula permite realizar duas estratégias diferentes:

A - Estímulos versus córtex,
em que se altera as velocidades de apresentação dos estímulos mas se mantém o córtex com a velocidade de percepção normal.


B - Córtex versus estímulo,
em que se altera a velocidade de percepção do córtex mas se mantém normal a velocidade de apresentação dos estímulos.


O interessante desta alternativa é que é aqui que se pode inserir diversos aspectos positivos e negativos da sua utilização.

Como positivos encontra-se a meditação como processo voluntário de interferir na dinâmica das ondas Alfa e/ou Theta do córtex, ou os casos especiais da "zone" (ondas Theta-Gamma no córtex), que surgem na alta competição ou em emergências pessoais ou em alta e intensa concentração em estudos, investigação, etc.

Como aspectos negativos, aparece o uso de drogas, desde o álcool e fumadela de ervas, a cházinhos calmantes/excitantes, passando por medicamentos, etc, que criam EAC (Estados Alterados de Consciência) com alterações de percepção e funcionamento nervoso e mental.

Esta situação é conhecida e vulgar, existindo conselhos e legislação aplicada que limita a sua prática e proíbe actividades aos seus tomadores, por exemplo, conduzir automóveis se embriagado (...mas, claro, neste caso poderão sempre conduzir carroças pois o burro ou o cavalo tomam as decisões).

PS- Há vários e deliciosos romances campesinos do século XIX, em que o personagem embriagado, inconsciente e com córtex lentinho e incapaz de conduzir, é levado para casa pelo seu burro ou cavalo que continuam com o córtex a funcionar normalmente. 
Como se vê, a sabedoria popular já conhece e usa esta fórmula há muito tempo.




Continua em "As crianças, a vida e os antipsicóticos- parte 2"