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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Evidência, prova, opinião …a barafunda [ Parte 2]

Referência:
1 - Evidencia, prova, opinião … a barafunda
2 - Evidencia, prova, opinião … a barafunda [ADENDA]
3 - Evidencia, prova, opinião … a barafunda [nova ADENDA


Duas fotos e uma pergunta:


Admitindo que são fotos de ANTES e DEPOIS de comer... qual será a sua sucessão lógica, a de A para B ou a de B para A e porquê?

Como experiência tentar encontrar uma sucessão lógica a partir de detalhes das fotos que expressem diferenças significativas (factos).
PS - Alguns exemplos na continuação.

Diferentes opções são possíveis a partir dos factos que são seleccionados entre as evidências (fotos ) expostas, isto é, plumagem, olhar, bico, cabeça, atitude, etc. 

================????

Se se procurar detalhes, as duas fotos são exactamente iguais, excepto uma pequena diferença no bico.
Numa delas, a "boca" está ligeiramente curvada para cima, na outra para baixo, o que um bom observador conseguirá ver, conscientemente ou inconscientemente.
Se o fizer, os olhos olham e o cérebro vê, criando significados, i.é., conclusões. Mas a questão é o que é que ele vê, ou seja, que conclusões constrói.

Para o fazer, o ponto de partida pode ser simples, antes de comer tem o incómodo da fome, depois de comer tem o prazer de estar saciada, ou seja, B+A.
Porém, de uma forma mais complexa, pode primeiro fingir-se saciada para facilitar a caçada e depois ficar nomal (séria), ou seja, A+B.

A justificação das opções permite clarificar "um pouco" as razões da opinião formada a partir da selecção porque considerou evidências significativas, isto é, provas.

Como conclusão, parece que as nossas "verdades" são um cocktail de diversas subjectividades, entre as quais as originadas no exterior e as "oferecidas" por nós próprios.

Na prática, procurar a VERDADE é uma espécie de "arqueologia de ideias" que, em vez de tirar camadas de entulho que as envolvem, tira camadas de subjectividades que as entranham, das quais a mais difícil de descobrir é tirar a inerente ao próprio "arqueólogo".

Parafraseando Freud, "… quando o Manel fala do António fala mais de si próprio do que do António…" pois tudo o que o Manel diz contem um reflexo de si próprio. Por outras palavras, a OPINIÃO do Manel sobre o António contem duas subjectividades, uma inerente ao António e a outra inerente ao Manel.
Em conclusão, falar de opinião objectiva é muito subjectivo.

Segundo Laurent Gounelle, e parafraseando a sua ideia, "o bom e o mau que vemos nos outros é o reflexo do que "sabemos"(conhecemos-sentimos-intuimos) em nós próprios".

Como exemplo, a pergunta inicial agudiza esta tendência de colocar na nossa opinião o que somos e não o que está no facto-a-opinar.
Na verdade, o problema apresentado tem muita falta de dados para possibilitar uma opinião. Deste modo, a tendência natural é detonar o antropomorfismo, isto é, dar características humanas a animais fazendo projecções humanas sobre eles.

Por exemplo, no caso dos cães, o antropomorfismo facilitado e justificável pelas alterações fisiológicas que eles apresentam em função de certos estados mentais.
Assim, estatisticamente, poder-se-á concluir que o cão "quando rosna e arregaça os dentes está zangado" e "quando não o faz não está zangado".

A junção da subjectividade do cão e o antropomorfismo baseado em alterações fisiológicas podem criar eficácia lógica para gerir a relação com o cão, acumulando sabedoria por experiência acumulada.
Mas ao mesmo tempo, possibilita TAMBÉM "ler" (entender, compreender) quem usa essa sabedoria acumulada pois a sua subjectividade também faz parte das conclusões que tira:

O cão rosna. Conclui o Zé:
- Ele vai atacar!!! - 
Conclui o Zoca:
- Só está assustado… vai fugir.
Só falta saber a subjectividade do cão… atacar, fugir, encolher-se?


TODAVIA, ISTO NÃO ACONTECE NO CASO DA ÁGUIA… !!!!!


Na verdade, não há expressão de subjectividades no bico da águia como é possível no focinho do cão.
As diferenças no formato do bico não são alterações fisiológicas, elas são rígidas, não variam com estados mentais ou orgânicos, isto é, não significam nada, excepto que são duas águias diferentes e assim continuarão  até morrer... tenham ou não tenham fome.
O seu bico não se altera por estados mentais, como o focinho do cão.

As respostas dadas são um caso puro de antropomorfismo, projecções sobre dados que nada significam.

PS - Considerando projecções pessoais de humanos sobre outros humanos:
- Estou tão irritado e aquele tipo a olhar para mim ...ainda leva um estalo!
que criam conclusões sobre dados que nada significam, pode ser considerado um caso particular de antropomorfismo tosco.
Nesta perspectiva, o fanatismo, racismos, certas crenças que se apoiam em dados desprezáveis serão apenas variantes de antropomorfismo tosco.

Em conclusão, neste caso das fotos das águias, as escolhas feitas "falam" apenas do observador e nada dizem sobre as águias, porque a diferença significativa será sempre a mesma desde que nascem até que morrem, são diferenças sem significado excepto para distinguir as águias uma da outra..

Falar sobre a águia é apenas um "isco" para o observador falar de si, é uma espécie de teste projectivo.

A resposta lógica de que "não é possível escolher a sucessão porque os bicos são rígidos e não expressam nada" seria uma resposta possível ao problema posto. Todavia, mesmo esta resposta "de não responder" faz parte do teste porque, na prática, acrescenta detalhes esclarecedores ao perfilde quem responde.

Em conclusão, desde que uma pessoa seja "metida" num problema, qualquer decisão que tome (ou não tome) é sempre um dado que faz parte do seu perfil.
Por outras palavras, sempre que se tem conhecimento de um problema nunca mais se pode ficar neutro a esse respeito, tudo que decidir é uma pincelada no seu perfil.

Para terminar e tornando a parafrasear Freud:

"… quando os Manéis falam do Trump falam sempre mais de si próprios do que do Trump…"

Ler opiniões "boas, más, assim-assim" sobre o Trump além de ficarmos a saber algo (verdade ou mentira) sobre o Trump, ficamos a saber bastante mais "verdades" sobre quem escreveu. Ler estas notícias é sempre ler duas notícias ao mesmo tempo: o Trump e o comentador.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Novo estilo de luta política


Referência:
["dilema do abraço como "arma de dois gumes"], in Pinçamentos

As relações humanas são veiculadas por processos constituídos por dois factores: forma e conteúdo. A forma relacional tem sempre várias "faces" possibilitando uma "dança de ambiguidade" entre os seus possíveis conteúdos lógicos.

Um dos quiproquós mais vulgares é a possível duplicidade entre "proximidade-afecto" e  "proximidade-prisão", onde o acto de "prender-por-afectividade" surge com tiques de demonstração de amizade (ou amor) acompanhado por tiques expressivos de... " como sou um amigo!". 


O "instinto da liberdade de fuga" reage automaticamente a esta "proximidade-prisão". Todavia o stress dessa "liberdade de fuga" não concretizada, apesar de ser recalcado com máscaras sociais de convívio, acaba por fugir ao controlo e mostra-se à superfície:


A nova luta política

O apertar do "aperto das mãos", estilo "aperta quem pode".


A Alta Costura, sempre atenta, está a criar um design de ligaduras para cumprimentos em cerimónias de gala, com dois modelos. 
Um de prevenção para usar antes dos cumprimentos: "peço desculpa, mas só com a mão esquerda".
Outro para usar depois dos cumprimentos, mais espessa pois tem gelo incorporado.





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Evidência, prova, opinião …a barafunda [ nova ADENDA]

O que está no muro e não é muro ????
Referência:
Evidência, prova, opinião …a barafunda [ADENDA]


Factos são configurações mentais sobre evidências "caçadas" e relacionadas e, se assumidas, são posições pessoais.

A figura acima por manipulação de referências anteriores é facilmente assumida como um MURO DE TIJOLOS, esquecendo outras possíveis conexões e associações, fixando-se na estrutura óbvia já obtida. 
Um exemplo clássico:

- Estou muito contente, porque tenho um papagaio que diz olá.
Responde o amigo com ar sério:
- Isso é vulgar, tenho um garrafão que também diz.

Isto é possível ou é só uma "mentirinha" engraçada?

Se concluir que é "mentirinha" está a ser enganado pelo seu cérebro porque com a palavra papagaio fixou-se no dizer oral e … o garrafão não fala.
Porém, com o dizer escrito já o garrafão diz "Água do Luso".

E é assim, com estes quiproquó's, que se fazem guerras de crenças… fanatismos políticos, religiosos, sociais, etc.

Nestes casos, o explicar não funciona com a técnica do ping-pong de ideias, tem que se procurar a referência "dominante" e invadi-la da "encruzilhada para o princípio e para o fim". 
No exemplo, a solução não é discutir a comparação papagaio-garrafão mas invadir o problema do "diz" que é onde tudo começa.

Em relação á solução do problema do muro, eis um filmeco de 30s que só a activa a problemática das referências mentais 2D ou 3D, alterando as configurações "autónomas" feitas pelo córtex.






domingo, 5 de fevereiro de 2017

Dilema do abraço e carícias a cães

 

O abraço contém o dilema de aconchegar e ser aconchegado e de prender e ser aprisionado num constante jogo de "…ou…ou…". 
Exemplo:

Dizia a mulher ao marido:
- Quando namorávamos estavas sempre a segurar-me as mãos. Agora ficas longe….
Respondeu o marido:
- Mas dantes, em casa da tua mãe, havia o piano que tinhas a mania de tocar.

O ritual do abraçar é uma arma de dois gumes, pois se por um lado dá o afecto de acolher, por outro lado tira a liberdade de agir. A questão é saber qual é a alternativa que está em curso nesse momento.

Muitas vezes mergulha-se no prazer do aconchego, como em situações tipo "Romeu e Julieta", e só depois, tardiamente, se reconhece o bloqueio prisional, querendo então reconquistar a liberdade lutando por "não é não".
A duplicidade estava lá pois quando o aprisionar não existe não se luta por liberdade.

Na verdade, mesmo em vulgares abraços, de familiares a políticos e de íntimos a sociais, esta duplicidade entre o "abraço-afecto" e o "abraço-faz-de-conta" ou "instrumental"* pode existir sub-reptícia sem ser conscientemente notada.

[*]- A diferença está em que no "abraço-afectivo" a expressão/consumo da emoção é o fim em si,  nada mais existe além dela. Todavia, no "abraço-instrumental" a manipulação da emoção é apenas um recurso (meio) utilizado para obter um resultado (fim). 
Eventuais "consequentes" à posteriori permitem desvelar a duplicidade que os origina.

Quer isto dizer que as duas alternativas (afecto e prisão) existem sempre como possibilidade, nunca há garantia prévia, é uma espécie de paradoxo Gato de Schrödinger da Quântica que só o colapsar*  define o que acontece.

[*]- Na perspectiva quântica, quando uma das possibilidades parece "pular" para a realidade que assume as suas características,  todas as outras possibilidades desaparecem. Só então, o abraço se define como afecto ou prisão e quais as suas eventuais percentagens. 
A sensibilidade a este colapsar é o cerne da questão da "dentada ou lambidela" por parte do cão. 
Às vezes, os humanos só descobrem o que está em jogo quando os "colapsares" são demasiado óbvios, mais tarde, na passagem da "lua-de-mel" à "lua-de-fel"… e com o nome técnico de divórcio.

Por exemplo, esta indefinição pode ser reconhecida em simples rituais sociais, como por exemplo, um casal entrar em local desconhecido quer discoteca quer bar, restaurante ou casa de conhecidos, etc.

Se o homem der prioridade à mulher, ele fica com a vantagem de, na rectaguarda, observar o que acontece e decidir o que faz, desde abandonar até continuar ou apoiar.
Se o homem entrar primeiro, a mulher fica com essa vantagem e ele que resolva os imprevistos.
Os protocolos, regras, estratégias, padrões, instintos, etc, são sempre "armas de dois gumes", só se tem a certeza depois de colapsar*.
Os cães são muito mais sensíveis e reactivos às nuances destes colapsares, reagindo com lambidelas, dentadas ou simplesmente aturando o que lhes fazem.

[*]- Este risco-compromisso é um dos factores de atracção do jogo "Poker Aberto",  sem se cair no aditismo viciante. Ele é muito eficaz como treino de sensibilidade à leitura de possibilidades. Convém introduzir algumas regras adicionais para separar as vias do adito e do adepto.

Uma experiência pessoal para auto-análise:

Uma família entra num restaurante, pai, mãe e filho (5 anos).
Das seis posições qual escolheriam para sentar a familia ?
Qual recusam totalmente?


Se se fizer uma comparação de escolhas entre família (incluindo crianças), amigos, conhecidos, etc, as diferenças serão muitas com e sem padrões comuns.
Não sei qual vai ser o resultado mas, com 99% de certeza, uma conclusão vai existir: haverá preferências.
Isto quer dizer que "naturalmente" se sabe que não é indiferente sentar de uma ou de outra maneira. Depois com o sentar (colapsar) a família define-se.

Segundo alguns autores, o abraço é um ritual mais significativo do que o beijo ou que o próprio sexo pois no seu "making"* (realizar) todas as possibilidades (afecto ou prisão, e percentagens) se definem e  compreendem.
[*]- …e não no seu "doing".

Nesta perspectiva, o beijo representaria um abraço simbólico arrastando consigo todo o peso e intensidade que os símbolos têm na psique humana, vide religiões, política, etc.

Assim, recordando o antropólogo Ashley Montagu ("Touching the human significance of the skin") e recordando uma história africana (1963):
Africa (1963)
Uma noite numa aldeia piscatória, conversando à volta da fogueira, perguntei se os casais também se separavam e como. A resposta foi um simples:
"- Ainda…",
significando assim que a resposta ia ser pensada e viria algures no tempo. A conversa continuou.
Tempos depois, um participante, muito idoso, veio falar comigo e deu-me a resposta:
"- Quando a dormir não lhe ponho a mão em cima".
Espantado, perguntei suavemente:
"-Se está a dormir como é que sabe?".
A resposta foi natural:
"-Adormecemos separados e, depois, acordamos abraçados,... ou não!".


Mais tarde "conheci" as pesquisas de Ashley Montague e esta história africana começou a fazer sentido. Na verdade, aquando da gravidez, o tacto talvez seja o primeiro canal comunicativo mãe-filho pois estão nove meses "abraçados". Em consequência, na prática, talvez o tacto continue a ser o sentido fundamental das (e para as) relações humanas.

Segundo alguns pediatras*, para um bebé não doente deixar de chorar não é aconselhável chocalhar o seu cérebro com o embalar(**). Segundo eles, é preferível um abraço aconchegado (troca energética??) que faz recordar e reconstituir o conforto intra-uterino onde viveu confortável e seguro durante nove meses.
Um ou dois minutos serão suficientes para deixar de chorar. Se não resultar é porque tem um problema ou o abraço aconchegado foi de raiva-stressante e não afectivo-relaxante.

[*] - in Pinçamentos "Crianças, vida e antipsicóticos- parte 3"
[**] - Na verdade, se estivermos num combóio a ser chocalhados pelo andar da carruagem, também adormecemos não por bem-estar mas incomodados e talvez com dor de cabeça. 




Os cães são muito sensíveis a esta dicotomia abraço-conforto ou abraço-prisão e a ela reagem facilmente com menos máscaras sociais a embrulhá-la*. As reações são óbvias, directas e diferentes.

[*]- Nos humanos, inserir estas máscaras sociais, chama-se educação e nos animais chama-se domesticaçãoÉ interessante analisar porque há palavras diferentes nos dois casos quando muitas vezes o método é o mesmo, apenas difere o aprendiz. 
Com incompetências, e o "natural instintivo" estalo educativo, as crianças choram e toda a "gente" sabe educar. Com cães, canzarrões,  lobos, leões, etc que mordem, é preciso especialistas pois o estalo educativo deixa de ser "natural e instintivo".

Nos cães a "liberdade de fuga" é uma condicionante fortíssima pelo que o abraço-prisão (abraço "neurótico"??) é uma agressão muito stressante, pouco afectiva e com provável dentada ou rosnadela* como resposta.

[*]- Muitos casamentos e relações sociais seriam mais fáceis com esta técnica de clarificação.

Por muito educado, ou melhor, domesticado que um cão esteja, os sinais de conflito são claros, apesar de nos humanos esses sinais também existirem mas mais discretos.
Na internet há muitas fotografias destas (ver aguarela inicial).
Isto quer dizer que com um cão a comunicação por abraço deve ser clara e não deixar dúvidas quanto ao seu significado ser afectivo* e não instrumental. O risco a correr é uma dentada.

[*]- Nos humanos esta alternativa alarga-se a carícias, beijos, cumprimentos, etc. Os sintomas (olhares a meia-lua, cabeça torcida, olhar fugidio, etc) também existem, mas como não há o hábito de rosnar ou morder é tudo mais impune.

Nos cães há vários locais para carícias afectivas. Entre eles está o topo da cabeça, por baixo do queixo, lombo, barriga, flanco, quartos traseiros, etc.

O mais comum é no topo da cabeça, o que facilita o disfarce dos sinais de stress.


Olhar em frente (olhar que foge), posição de espera (aturo mais este), baixar as orelhas (sinal de submissão ou expectativa), são indicações claras. A dúvida é apenas até quando e quanto ainda vai aturar.

Se a relação já é afectiva, ele aproveita a situação para dar lambidelas na mão, abanar a cauda, encostar-se, empoleirar-se, etc. Mas é prematuro tentar um abraço sem estes sinais de confiança, pois a prisão de movimentos pode significar um "bloqueio" ao instinto da liberdade de fuga, provocando recusa ou contra-ataque.

Sob o ponto de vista do abraço, o caso do cio é interessante.

Da minha experiência com uma fêmea de "cão de água português" aprendi como, na época do cio, ela era firme com o seu "não é não" às tentativas de "abraços de fecundação".
Às vezes quando um macho se aproximava e a "abraçava", a rosnadela e a mordidela eram imediatas, a recusa estava feita*. Se ele não percebia e insistia, ou seja, tentava estupro, a zaragata (às vezes violenta) era certa.
[*]- Parece que a sintonia genética é o critério do acasalamento por favorecer a continuação da espécie.

Na prática só tinha que me preocupar quando havia sinais de "namoro" por parte da cadela. Sinais esses dados sempre com muita antecedência, tais como, cauda de lado, latir, correr para ele, etc. Sempre me pareceu que o comando das selecções era da fêmea e nunca do macho.

Segundo alguns autores, o que vigora é a atracção genética, isto é, a fêmea "vai querer" o macho que garante uma descendência com maior valor genético para a espécie.
Realmente as preferências da cadela não seguiam os canones da "beleza" canina pois rosnava e mordia ao "burguês raça pura", cheiroso e penteado que, com a trela, trazia o dono a reboque. Pelo contrário, toda ela se agitava com rafeiros, homeless e multiraciais*, criando-me então problemas de controlo.

[*]- Segundo especialistas a multiplicidade genética favorece a espécie e, a fecundação  é muito negativa se dentro da mesma família (mesma árvore genética).

Estes casos de "paixão genética" à distância, com o seu perigo dos abraços "eficazes", eram o meu problema. Tive sorte de descobrir uma solução que, por não funcionar, acabou por me dar uma solução fácil e eficaz.

Na época e com grande fama comercial, apareceu o spray anti-cio para perfurmar as cadelas e afastar os machos. Comprei, apliquei e tornei a aplicar e NÃO FUNCIONOU… os cães portugueses de qualquer raça não ligavam a perfumes, tinham preocupações mais importantes.

Fiz experiências, seleccionei idades, raças, tamanhos, etc, mas, passados alguns segundos após a aplicação, o caos regressava e lá vinha a barafunda para travar "pretendentes".

Por fim descobri a solução. Estava a combater o problema errado, pois a questão não era o cheiro da cadela, a questão era o cão cheirar o cheiro.
A solução foi simples e lógica, ERA SÓ PERFUMAR O CÃO com cheiro anti-cio e deixar a cadela em paz.

Voltei à barafunda, fiz experiências e conclui que funcionava.

O spray anti-cio nas cadelas não resultava porque o cheiro biológico é constante, intenso e não desaparece, enquanto que o perfume em spray é momentâneo, sai com o movimento, dilui-se e é abafado. Assim,  durante alguns segundos o spray tem efeito mas depois o macho recupera a cheiradela.
Porém se posto no macho, ele, para onde quer que vá, leva o perfume consigo e como não produz cheiro  de cio (como a cadela)  fica sempre o intenso e dominante.

Assim, deixei a cadela em paz com o seu ciclo biológico e comecei a perfumar de anti-cio os machos pretendentes que tivessem "perfil" de probabilidade.
Na prática, após a perfumadela, os machos davam cheiradelas para o ar e iam-se afastando, levando o perfume de não-cio e acabando por, desinteressados, esquecer a função de propagação da espécie.

O problema dos cios ficou resolvido, pois a uns ela mordia e aos outros eu perfumava. A época do cio passou a ser apenas uma época de passeios mais agitados e divertidos, ela a fazer prospecção de namorados e eu a perfumar alguns possíveis vencedores. Divertíamo-nos os dois.

Regressando ao quotidiano normal, um cão deitado de barriga para cima é uma situação delicada sob ponto de vista de abraços.

Na verdade é uma posição totalmente indefesa de barriga desprotegida e reacção lenta. Não é uma posição de submissão para o exterior é uma posição de confiança.

Deixar alguém se aproximar já é um sinal de confiança, senão levantar-se-á e discretamente mudará de sítio, ficando talvez deitado de barriga para baixo e observando o que acontece.
Ficar na mesma posição, deixar que lhe façam festas na barriga ou peito e ainda ser abraçado, quer dizer amigo de confiança e para toda a vida. É uma mensagem a não esquecer, agradecer, respeitar e que nunca se tem o direito moral e ético de defraudar.

Se por medo, o cão se põe nessa posição, principalmente, com a cauda sobre a barriga, é já um cão destruído a precisar ser apoiado.

PS- Não aconselho convidar para jantar lá em casa, o causador desse medo e que o cão identifica sempre com clareza.

Por fim, as festas por baixo do focinho (um ligeiro coçar sem pressão)

que, se ele aceita, levanta o cabeça, faz contacto de olhar, abana a cauda e saboreia, isso é sinal de alegria pelo re-encontro com uma amizade que tem para a vida inteira.

Para terminar, uma regra de etiqueta.
Fazer uma carícia a um cão é invadir o seu espaço de vida, é falta de respeito e educação fazê-lo sem pedir autorização.

Se durante a aproximação ele deu nítidos sinais de reconhecimento, a autorização está dada, se esses sinais não existem então tem que ser pedida.
O ritual é oferecer as costas da mão para cheirar mas sem a "colar" ao nariz* (ele cheira bem à distância) e ele se aproximará se quiser. Se após cheirar, ficar quieto à espera, ou se aproximar, então, têm autorização. O ideal é começar com uma festa no cachaço (onde os pais os seguram para transporte) ou no alto da cabeça sem pressão.
[*]-Técnica de "relembrar" domínio
Não dar a palma da mão a cheirar, nem lha "colar" ao nariz pois ele tem o direito de não querer cheirar e além disso é "cegá-lo" (tapar-lhe a visão), são apenas técnicas usadas para criar submissão. Por outro lado, esse aparente consentimento pode ser só curiosidade de descobrir por onde a mão andou, como se cheirasse um pneu de automóvel.

Não esquecer que este encontro é apenas um primeiro encontro, não convém estragar a relação com o estilo "apressadinho" misturado em cocktail com o estilo "EU sou um gajo porreiro".